domingo, 21 de agosto de 2016

Francisco, um modelo sempre atual do Amor a Deus








Francisco de Assis (1182 -1226) é um grande amigo. Um amigo muito caro de tantos que desejam viver e arder de amor a Cristo Jesus com tudo o que tem e são. Sim, modelo por que não se quis como modelo, mestre por que se fez discípulo fiel. Poderíamos ouvir de seus lábios o que São Paulo disse aos seus leitores: “sede meus imitadores como eu sou de Cristo”. Hoje, meditamos com Francisco no Amor que une a si e em si transforma a todos os que se aproximam d’Ele, este Amor que arde por derramar-se em todos os corações, este Amor que é Deus, o Senhor. (cf. IJo:)

Na nossa Vocação, tantas vezes entendemos e dizemos que o Senhor nos deu um “Caminho de santidade”, uma “Via de amor” a Ele (cf. Is: 43, 19ss). Sempre ouvimos e pregamos sobre o fato de que “o amor a Deus é uma decisão de dar a vida interia”, de “ser vida ofertada” a Deus como “um holocausto permanente de amor” em união íntima com o Cristo Jesus na Cruz, para assim manifestarmos ao mundo o poder da Ressurreição de Cristo. Essa inspiração, esse clamor de Deus, este anseio de ser “todo oferta” é um dom de Deus que veio até nós por meio de Francisco de Assis.


De fato, um caminho não foi feito para ser teorizado, mas para ser percorrido. A espiritualidade de Francisco não é um conjunto de ensinamentos teóricos, mas um caminho pessoal e interior que precisa ser percorrido individualmente por cada discípulo. Sua vida interior tem um centro: Cristo Ressuscitado na Cruz, que no ícone de São Damião lhe fala e lhe convida a ir “reconstruir a Igreja” pela santidade de sua vida. Tudo na vida interior deve partir do encontro com o Cristo Ressuscitado que passou pela Cruz e tudo deve nos conduzir a Ele. Por isso rezamos, fazemos penitências, evangelizamos: por que encontramos a Cristo e fomos impactados pelo poder da sua ressurreição que nos tocou e destruiu a morte em nós! Hoje vivemos a vida d’Ele no amor!


Como se vê, o caminho que Francisco abriu para nós mantém-se como um caminho seguro e muito bem balizado, mas que só pode ser percorrido por pobres e simples, pois é uma contemplação que só os simples são capazes de fazer: a contemplação da presença de Deus no cotidiano da vida, em cada situação e momento, como que uma santa ansiedade para em todas as coisas dar glória ao Senhor do céu e da terra. Sim, uma contemplação que nos leva a uma profunda união com Deus, união que se faz estável e que não se interrompe no meio das mais diversas atividades. Uma união que nos lança completamente no Amor vivo de Deus que arde e que nos faz arder de amor por Ele. É esta união de amor que nos configura a Cristo. Em Francisco, esta configuração se manifestou até em sua carne, pelos sagrados estigmas impressos pelo amor em seu corpo. Mas para todos nós este é um caminho: precisamos trazer em nossos corpos, pela união de amor com Deus, as marcas de Cristo Ressuscitado que passou pela Cruz e que mantém as suas chagas como um sinal de amor, como a aliança com a qual Ele quis desposar as almas para a Eternidade!


Esta disposição da vida inteira a Deus e ao seu amor gera uma profunda espiritualidade encarnada, não só pela verdade de sua fundamentação teológica que é o fato da Encarnação do Verbo, de sua kénosis (esvaziamento), que visa a Cruz e a Ressurreição, que se atualiza na Eucaristia, mas antes, este “Cristocentrismo” gera um cuidado e um amor por toda a realidade do corpo de Cristo: a Igreja e os irmãos. Viver o amor esponsal a Jesus Cristo é viver intensamente unido à Igreja com amor apaixonado por ela e, ainda, é fazer-se dom para os irmãos mais necessitados de tudo: os pobres.


Penso que “pobres” pode significar bem mais do que aqueles que não têm algo. Penso que pobre é todo aquele que tem carência do que lhe é vital. Então, neste sentido, a pior pobreza é a pobreza do não conhecer e não amar a Deus. Sem a evangelização, nosso serviço aos pobres pode se tornar apenas assistencialismo social, filantropia que qualquer um poderia fazer. Com Francisco, entendemos que nossa mão deve se estender para dar o pão ao que tem fome ao mesmo tempo que, com sorriso nos lábios, nós lhe anunciamos que Deus é amor e nos salva em Cristo Jesus.


Sim, esta é a via da minoridade, a via dos pequenos, dos que sabem que foram eleitos por Deus por serem pecadores, por serem fracos e por serem amados até a Cruz. Porque somos os menores, servimos aos nossos irmãos com o amor que recebemos de Deus. O que temos para dar? Diz-nos a experiência espiritual de nossa Comunidade:
Se nos perguntarem o que deixaremos para a próxima geração e qual será a diferença impressa no mundo por nós, responderemos: “Deixaremos, por vocação, a presença do Senhor Jesus que transformou nossas vidas e transforma o mundo. Aos desamados manifestamos amor; aos feridos no corpo e na alma fomos remédio e cura de Deus; aos necessitados fomos auxílio; aos sedentos da graça fomos canais do amor de Deus; aos que se tinham perdido, restituímos a dignidade de filhos de Deus. Ficamos ao lado daqueles que o Senhor tanto ama, pois o ostensório vive para que o Senhor seja amado e adorado, para levar a luz do Senhor onde as trevas reinavam. (El, 10)


Francisco é posto diante dos nossos olhos, antes de tudo, como um modela de radicalidade e amor no seguimento de Cristo. Tudo na sua vida tinha por meta e sentido o encontro com Cristo, o seu e de todas as pessoas a quem o Senhor lhe desse a graça de encontrar. Seria uma redução, no mínimo, chamar Francisco de Assis de o “Pai da Ecologia”, uma vez que de fato, mesmo a sua experiência de amor a Criação toda promana da realidade da redenção obrada por Cristo na Cruz, que nos dá a paz com o criado, que nos faz reconhecer, no Espírito, a bondade e a paternidade de Deus. A atitude de Francisco diante da natureza não era, de modo algum, um “hippiesmo”, mas antes um fascínio transbordante de louvor a Deus que nos dispensa tanto amor e o manifesta em toda a obra da Criação. Novamente, se destaca que a vida de Francisco tem um centro gravitacional: Deus-Trindade-Santíssima!


Esta centralidade de Deus na vida, que é vivenciada na união habitual com Deus na oração interior, nos remete a uma correta ordenação do amor a tudo, inclusive a nós mesmos. Nos Estatutos da Comunidade temos um ensino que me parece bem pertinente e herdado de Francisco: Em primeiro lugar o louvor e a glória de Deus, depois a alegria dos meus irmãos, em terceiro e último, o sacrifício para mim. Amar a Deus sobre tudo, ao próximo por amor de Deus e a mim mesmo, em Deus, este é um plano seguro de Santidade Franciscana. Digo isso, para que percebamos que em Francisco não existe um dualismo entre o espírito e alma, mas uma correta subordinação da carne ao Espírito, como nos ensina São Paulo em Gálatas 5 (Cf. Carta aos Fiéis, 1, 1-7).

É dentro deste contexto da primazia da vida no Espírito que podemos entender a escolha de Francisco por viver os Conselhos evangélicos na forma de voto. De fato, a vida franciscana não é, senão, “observar o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem propriedade e em castidade” (Regra Bulada 1,1). Viver o Evangelho! Este é o ensinamento de Francisco que o faz sempre tão atual: ser o que Cristo espera de nós! Ao olharmos para Francisco, hoje, devemos nos animar a imitar a sua vida e a sua entrega, uma vez que ele mesmo nos diz que “é uma grande vergonha para nós, outros servos de Deus, terem os santos praticado tais obras, e nós querermos receber honra e glória somente por contar e pregar o que eles fizeram!” (Admoestações, 6). Que este "Gocce" nos leve a contemplar em Francisco um modelo seguro que podemos seguir para viver Cristo! A todos os que o leem, desejo os frutos da Cruz: Paz e Bem!

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