domingo, 21 de agosto de 2016

Francisco, um modelo sempre atual do Amor a Deus








Francisco de Assis (1182 -1226) é um grande amigo. Um amigo muito caro de tantos que desejam viver e arder de amor a Cristo Jesus com tudo o que tem e são. Sim, modelo por que não se quis como modelo, mestre por que se fez discípulo fiel. Poderíamos ouvir de seus lábios o que São Paulo disse aos seus leitores: “sede meus imitadores como eu sou de Cristo”. Hoje, meditamos com Francisco no Amor que une a si e em si transforma a todos os que se aproximam d’Ele, este Amor que arde por derramar-se em todos os corações, este Amor que é Deus, o Senhor. (cf. IJo:)

Na nossa Vocação, tantas vezes entendemos e dizemos que o Senhor nos deu um “Caminho de santidade”, uma “Via de amor” a Ele (cf. Is: 43, 19ss). Sempre ouvimos e pregamos sobre o fato de que “o amor a Deus é uma decisão de dar a vida interia”, de “ser vida ofertada” a Deus como “um holocausto permanente de amor” em união íntima com o Cristo Jesus na Cruz, para assim manifestarmos ao mundo o poder da Ressurreição de Cristo. Essa inspiração, esse clamor de Deus, este anseio de ser “todo oferta” é um dom de Deus que veio até nós por meio de Francisco de Assis.


De fato, um caminho não foi feito para ser teorizado, mas para ser percorrido. A espiritualidade de Francisco não é um conjunto de ensinamentos teóricos, mas um caminho pessoal e interior que precisa ser percorrido individualmente por cada discípulo. Sua vida interior tem um centro: Cristo Ressuscitado na Cruz, que no ícone de São Damião lhe fala e lhe convida a ir “reconstruir a Igreja” pela santidade de sua vida. Tudo na vida interior deve partir do encontro com o Cristo Ressuscitado que passou pela Cruz e tudo deve nos conduzir a Ele. Por isso rezamos, fazemos penitências, evangelizamos: por que encontramos a Cristo e fomos impactados pelo poder da sua ressurreição que nos tocou e destruiu a morte em nós! Hoje vivemos a vida d’Ele no amor!


Como se vê, o caminho que Francisco abriu para nós mantém-se como um caminho seguro e muito bem balizado, mas que só pode ser percorrido por pobres e simples, pois é uma contemplação que só os simples são capazes de fazer: a contemplação da presença de Deus no cotidiano da vida, em cada situação e momento, como que uma santa ansiedade para em todas as coisas dar glória ao Senhor do céu e da terra. Sim, uma contemplação que nos leva a uma profunda união com Deus, união que se faz estável e que não se interrompe no meio das mais diversas atividades. Uma união que nos lança completamente no Amor vivo de Deus que arde e que nos faz arder de amor por Ele. É esta união de amor que nos configura a Cristo. Em Francisco, esta configuração se manifestou até em sua carne, pelos sagrados estigmas impressos pelo amor em seu corpo. Mas para todos nós este é um caminho: precisamos trazer em nossos corpos, pela união de amor com Deus, as marcas de Cristo Ressuscitado que passou pela Cruz e que mantém as suas chagas como um sinal de amor, como a aliança com a qual Ele quis desposar as almas para a Eternidade!


Esta disposição da vida inteira a Deus e ao seu amor gera uma profunda espiritualidade encarnada, não só pela verdade de sua fundamentação teológica que é o fato da Encarnação do Verbo, de sua kénosis (esvaziamento), que visa a Cruz e a Ressurreição, que se atualiza na Eucaristia, mas antes, este “Cristocentrismo” gera um cuidado e um amor por toda a realidade do corpo de Cristo: a Igreja e os irmãos. Viver o amor esponsal a Jesus Cristo é viver intensamente unido à Igreja com amor apaixonado por ela e, ainda, é fazer-se dom para os irmãos mais necessitados de tudo: os pobres.


Penso que “pobres” pode significar bem mais do que aqueles que não têm algo. Penso que pobre é todo aquele que tem carência do que lhe é vital. Então, neste sentido, a pior pobreza é a pobreza do não conhecer e não amar a Deus. Sem a evangelização, nosso serviço aos pobres pode se tornar apenas assistencialismo social, filantropia que qualquer um poderia fazer. Com Francisco, entendemos que nossa mão deve se estender para dar o pão ao que tem fome ao mesmo tempo que, com sorriso nos lábios, nós lhe anunciamos que Deus é amor e nos salva em Cristo Jesus.


Sim, esta é a via da minoridade, a via dos pequenos, dos que sabem que foram eleitos por Deus por serem pecadores, por serem fracos e por serem amados até a Cruz. Porque somos os menores, servimos aos nossos irmãos com o amor que recebemos de Deus. O que temos para dar? Diz-nos a experiência espiritual de nossa Comunidade:
Se nos perguntarem o que deixaremos para a próxima geração e qual será a diferença impressa no mundo por nós, responderemos: “Deixaremos, por vocação, a presença do Senhor Jesus que transformou nossas vidas e transforma o mundo. Aos desamados manifestamos amor; aos feridos no corpo e na alma fomos remédio e cura de Deus; aos necessitados fomos auxílio; aos sedentos da graça fomos canais do amor de Deus; aos que se tinham perdido, restituímos a dignidade de filhos de Deus. Ficamos ao lado daqueles que o Senhor tanto ama, pois o ostensório vive para que o Senhor seja amado e adorado, para levar a luz do Senhor onde as trevas reinavam. (El, 10)


Francisco é posto diante dos nossos olhos, antes de tudo, como um modela de radicalidade e amor no seguimento de Cristo. Tudo na sua vida tinha por meta e sentido o encontro com Cristo, o seu e de todas as pessoas a quem o Senhor lhe desse a graça de encontrar. Seria uma redução, no mínimo, chamar Francisco de Assis de o “Pai da Ecologia”, uma vez que de fato, mesmo a sua experiência de amor a Criação toda promana da realidade da redenção obrada por Cristo na Cruz, que nos dá a paz com o criado, que nos faz reconhecer, no Espírito, a bondade e a paternidade de Deus. A atitude de Francisco diante da natureza não era, de modo algum, um “hippiesmo”, mas antes um fascínio transbordante de louvor a Deus que nos dispensa tanto amor e o manifesta em toda a obra da Criação. Novamente, se destaca que a vida de Francisco tem um centro gravitacional: Deus-Trindade-Santíssima!


Esta centralidade de Deus na vida, que é vivenciada na união habitual com Deus na oração interior, nos remete a uma correta ordenação do amor a tudo, inclusive a nós mesmos. Nos Estatutos da Comunidade temos um ensino que me parece bem pertinente e herdado de Francisco: Em primeiro lugar o louvor e a glória de Deus, depois a alegria dos meus irmãos, em terceiro e último, o sacrifício para mim. Amar a Deus sobre tudo, ao próximo por amor de Deus e a mim mesmo, em Deus, este é um plano seguro de Santidade Franciscana. Digo isso, para que percebamos que em Francisco não existe um dualismo entre o espírito e alma, mas uma correta subordinação da carne ao Espírito, como nos ensina São Paulo em Gálatas 5 (Cf. Carta aos Fiéis, 1, 1-7).

É dentro deste contexto da primazia da vida no Espírito que podemos entender a escolha de Francisco por viver os Conselhos evangélicos na forma de voto. De fato, a vida franciscana não é, senão, “observar o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem propriedade e em castidade” (Regra Bulada 1,1). Viver o Evangelho! Este é o ensinamento de Francisco que o faz sempre tão atual: ser o que Cristo espera de nós! Ao olharmos para Francisco, hoje, devemos nos animar a imitar a sua vida e a sua entrega, uma vez que ele mesmo nos diz que “é uma grande vergonha para nós, outros servos de Deus, terem os santos praticado tais obras, e nós querermos receber honra e glória somente por contar e pregar o que eles fizeram!” (Admoestações, 6). Que este "Gocce" nos leve a contemplar em Francisco um modelo seguro que podemos seguir para viver Cristo! A todos os que o leem, desejo os frutos da Cruz: Paz e Bem!

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Reaprender a simplicidade do louvor

Criados à imagem de Deus, fomos feitos para tudo receber dele, viver unidos a Ele e assim contemplar todas as coisas nele. Mas depois do pecado original, não olhamos mais que a nós mesmos e não contemplamos mais o mundo senão através do nosso pobre olhar. Louvar não nos é mais natural: há também a fadiga da prova, os fardos da existência. Além disso, o mundo em que vivemos privilegia uma cultura de violência e de morte face à qual é difícil articular uma resposta cristã. Esta resposta existe, portanto! Deus nos tem concedido um dom maravilhoso: a fé. E o cume da fé é o louvor.
“Eu estou no meio de vós”
Não consideramos demasiado rápido que o louvor seja simples. Os cristãos carregam o fardo dia como todo homem nesse mundo. Mas eles o carregam diferentemente, e é essa diferença, preparada no de Cristo, provada na Igreja, que lhe faz no mundo operários em toda parte.
O fundamento do louvor não é uma “crença” ou uma “esperança” mas a certeza da fé: “Eu estou no meio de vós”, nos diz o Cristo (Lc 22,27). O que nós temos visto ou entendido, feito ou omito, Deus aí está, no Poder de sua Presença divina. Não há nenhum espaço, nenhum momento da existência humana, seja ele inconfessável, onde Deus não esteja presente, e isso muda tudo! Porque essa presença é a presença de um Deus que salva. Quando nos criou para Ele, sua Palavra tem já ecoava: “Tudo quanto suplicardes e pedirdes, crede que recebestes, e assim será para vós” (Mc 11,24).
Desde a manhã, eu te louvo
Uma tal certeza de fé deve antes de tudo habitar nossa vida pessoal. Atenção! “pessoal” não significa “solitária”. Porque não temos nenhuma vida pessoal se nós vivemos sem Deus e nossos irmãos.
E a relação com Deus o fundamento da vida de todo homem. Este último está presente como um pai que vela sobre seu filho antes mesmo que ele tenha consciência disso. Esta presença pode já ser um motivo de louvor a cada amanhecer, no instante que se dá a abertura de nossas pálpebras: “Ao amanhecer, Senhor, eu Te rendo graças por esta noite onde Tu me preservaste do mal, e eu Te louvo por esse dia passado em Tua Presença”. A gente não fala no futuro, porque este dia está desde agora inteiramente na mão de Deus, .e qualquer coisa que nele aconteça. Por essa palavra pronunciada, meu coração se torna disponível à presença divina que prepara já alguns de meus encontros, cada episódio do dia. Haverá alegrias e provas, mas eu não temerei nada pois o Senhor está presente.
O “reflexo” do coração
Esta prece ao amanhecer não abre somente nossas pálpebras mas nosso olhar. Uma das grandes fontes de desequilíbrio psicológico hoje vem porque não sabemos mais nem olhar nem receber. Demasiado freqüentemente, nós vivemos só para nós mesmos. Nós consumimos nossas relações como os bens materiais, ou mesmo a natureza. Nós não procuramos conhecer, a impressão nos basta. Nós percebemos as coisas e os homens como mercadorias amontoadas. Isso nos fecha à ação de Deus que não trabalha na confusão. Eu não posso louvar a Deus pelas impressões que me habitam, ou pelo que eu penso. Eu não posso louvá-lo por uns fatos precisos e pelo que eu sei, isso que eu conheço. A questão aqui não é de um saber enciclopédico.
Ele se move num conhecimento simples, mas essencial. Desde a manhã, por exemplo, eu sei que cada segundo do dia está na mão de Deus, e eu escolho olhar seriamente esta realidade escolhendo uma decisão precisa: glorificar a Deus em cada ocasião que eu terei de reconhecer sua presença. Antes de “consumir” meu dia, eu o assumirei sem medo. A colocação em lugar de um pequeno reflexo, o “reflexo do coração”, permite entrar pouco a pouco nesse olhar, nessa atitude. Ele consiste em pronunciar em toda ocasião uma breve exclamação que pode ser, a que mais me convém: “Glória a Deus”, “Seja glorificado, Senhor”, ou “Senhor, eu te amo”.
Uma tal exclamação tem a enorme vantagem de por fim a invasão do pecado em mim. Por exemplo, eu sai do chuveiro e não encontro mais a toalha que havia preparado: minha mulher precisou dela para enxugar os cabelos! Antes de deixar complacentemente que se crie em min uma irritação alias para ???? compreensível porém pecado, eu me volto para o reflexo da o olhar de Deus: “Glória a Deus” – mesmo de maneira irritada, a oração produz seu efeito. E se for preciso que eu faça uma reprimenda à minha mulher, essa não será mais sob o pecado, mas sob a caridade.
Outro exemplo, eu me encontro em meu trabalho e os colegas me retardam ainda que e eu tenho um encontro profissional importante. Dizendo “Glória a Deus”, eu remeto toda essa situação a Deus. Eu creio que Ele está presente nesse situação Ademais, minha chateação fará avançar as coisas? E eu sei que não tomo nunca uma boa decisão sob o efeito do pecado! Quando eu chego a esse encontro, meu interlocutor me acolhe com uma xícara de café que ele teve tempo de preparar com o meu atraso. “Glória a Deus”, e o café tem outro gosto, esse da presença amável de Deus e de meus irmãos!” Eu não “consumo” mais eu o recebo, e entro numa atitude de maravilhamento: pois, o Senhor está comigo e Ele envia anjos para preparar meu caminho.
Exercer o louvor
Cada dia pode apresentar mais de cem ocasiões para louvar. Em muitos casos, é verdade, é preciso querer louvar, querer exercer a fé. Se esperamos para ter boa disposição, nós somos ingênuos! Querer louvar, não através de método, mas por obediência. O louvor é com efeito um mandamento que atravessa a Bíblia de ponta a ponta. E como a fé se exerce no sentido onde ela se aprende, o louvor se exerce da mesma maneira. Pouco a pouco, este louvor exercido vai combater mais e mais rapidamente todas as tentações que se apresentarem, tanto nas situações mais graves como nas mais simples, seja uma simples bolsa desaparecida seja um engarrafamento!
Muitos que têm posto no lugar esse “reflexo espiritual”, têm podido atravessar situações dramáticas que vencidas no Senhor não são mais motivos de sofrimento, mas as suportam até o fim com a coragem da fé.
O louvor das crianças na Igreja
O desejo de Deus é maior ainda. Ele não se move para nos fazer chegar a ter melhor relação pessoal, mas uma participação no ser mesmo de Deus e à sua obra de Salvação. A todos esses que vivem com Deus esta relação de fé, de louvor, de obediência e de amor, Deus transforma-os em seus amigos. “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim!”(Gal 2,20), exclama São Paulo. O Espírito Santo permite ao Pai e ao Filho de fazer em nós sua morada. Um só Espírito para um só Corpo: o de Cristo e o da Igreja.
A fé é o fruto da presença em nós do Espírito Santo. É necessário nos abrir à essa presença no tempo e no contratempo. É assim que exercemos a fé e que fazemos a experiência de um crescimento na comunhão com Deus e uns com os outros.
À cada “Glória a Deus” pronunciado, é uma vitória da caridade que arrasta todo o Corpo da Igreja ao louvor. Isso porque a essência da prece é comunitária, eclesial e litúrgica. Quando eu me retiro para o meu quarto para orar, isto não é senão comunhão com todos os meus irmãos e primeiro com aqueles que o Senhor me confia precisamente. Da mesma maneira, não há verdadeiro louvor fora da Igreja.
O conteúdo do louvor
Porém, pensarão alguns, eu não sei o que dizer! Ainda assim, há um meio muito simples. Por que a noite não retorna sobre o dia passado e não marca sobre uma caderneta os momentos fortes que lhe marcaram? Um guardanapo que foi a ocasião de uma bela vitória da caridade sobre nosso pecado; uma xícara de café ofertada e uma situação profissional recuperada de maneira inesperada. A gente fala freqüentemente de exame de consciência da noite, porém ele será renovado por um exame prévio das maravilhas de Deus em nós e ao nosso redor, sem esquecer os acontecimentos do mundo. Em sete dias dá para encher 10 páginas de uma caderneta (inútil relatar os acontecimentos; uma simples anotação basta), e essa caderneta aberta de noite no grupo de oração, dará um conteúdo preciso ao meu louvor. É assim que cada um, ouvindo o louvor uns dos outros, será renovado na fé, na certeza de que Deus está trabalhando hoje, e que o mal que parece vitorioso ao nosso redor, rende as armas diante do poder do louvor.
Não tenhamos medo, em nossas assembléias, de render graças por tudo isso, sem distinguir demasiadamente entre louvor e ação de graças. A ação de graças transforma-se em louvor, porque ela bendiz a Deus que se revela no que Ele faz. Se nós aclamamos Deus como Criador, Salvador, Rei Soberano, Senhor, etc., Ele se manifestará concretamente como tal, e através desta manifestação dele mesmo. É seu ser eterno que é revelado e que nós aclamamos. Aquilo que Deus faz, Ele não cessa de refazer, porque Ele é fiel.
Esta certeza é a da Igreja; ela traz sua prece desde as origens, e cremos que esta Mãe dos viventes, como toda mãe, só é feliz quando seus filhos estão felizes, vivos, firmes, adultos na sua fé, porém sem esquecer que eles são as crianças. Está aí a fonte de nossa alegria, está aí a origem de toda evangelização.

Jean-Luc Moens e Pe. Alain Dumont

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Santa humildade

De todas as virtudes, a humildade parece ser uma das mais difíceis de se alcançar. Todo cristão de verdade deseja crescer em humildade. Mas como fazer isso?

Estas linhas não pretendem ser um manual do tipo “consiga sem esforço”. Não existem rosas sem espinhos. Mas talvez a leitura deste artigo possa ajudar você a crescer nesta virtude, como um GPS que pede uma reorientação da rota.

1. Procure descobrir o melhor de cada um

Todas as pessoas ao seu redor certamente tiveram experiências que você não teve e têm algo a compartilhar. Einstein, um dos grandes cérebros da humanidade, disse: “Nunca conheci uma pessoa que fosse tão ignorante a ponto de não ter nada para me ensinar”.

2. Elogie sinceramente as pessoas

Como se sentirá uma pessoa ao ouvir você contando o que admira dela? Quanto mais você mencionar as qualidades das pessoas que estão ao seu redor, mais virtudes descobrirá nelas, e será mais difícil cair nas armadilhas do egocentrismo.

3. Não demore para reconhecer seus erros

Dizem que a frase mais difícil de pronunciar, em qualquer idioma, é: “Eu errei”. Os que se recusam a dizer isso por orgulho costumam voltar a cair nos mesmos erros e, além disso, acabam se afastando dos outros.

4. Seja o primeiro a pedir perdão após uma discussão

Se a frase mais difícil de se dizer é “Eu errei”, a seguinte mais difícil deve ser: “Me perdoa”… Esta frase tão simples é capaz de matar o orgulho e acabar com a discussão, e assim você mata dois coelhos com uma só cajadada. Mas, para isso, é necessário reconhecer que, assim como os outros, você também comete erros.

5. Reconheça suas limitações e necessidades

É parte da natureza humana querer dar a impressão de ser forte e autossuficiente; isso normalmente só serve para dificultar as coisas. Se você expressa humildade, pedindo ajuda aos outros e aceitando-a, sempre sai ganhando.

6. Sirva os outros

Ofereça-se para ajudar idosos, doentes, crianças ou para prestar algum outro serviço comunitário. Você sairá beneficiado, pois, além de adquirir humildade, ganhará a gratidão e o carinho de muitas pessoas.

7. Reconheça a mão de Deus em suas qualidades

É importante abrir os olhos da alma e considerar que não temos nada totalmente nosso para vangloriar-nos. Deus nos criou e nos deu qualidades e capacidades individuais, por amor. Nunca se esqueça de agradecer ao seu Criador.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Como ler o ícone da Santíssima Trindade




“É absurdo e impróprio pintar em ícones a Deus Pai com barba cinza e o Filho Unigênito em seu seio com uma pomba entre ambos, posto que ninguém viu o Pai segundo a Sua Divindade, que o Pai não tem carne […] e que o Espírito Santo não é, em essência, uma pomba, mas, em essência, Deus” (Grande Sínodo de Moscou, 1667).


Para a Igreja Ortodoxa Russa, representar a Santíssima Trindade na arte tem sido uma questão controversa ao longo dos últimos mil anos. Embora o Concílio de Niceia, em 787, tenha permitido a representação artística de Deus, a Igreja Ortodoxa Russa se mostrou descontente com as imagens populares de Deus Pai e de Deus Espírito Santo.


Eles consideraram que o homem de barba grisalha e a pomba não faziam jus ao mistério insondável do Deus trino e uno. Em vez daquelas difundidas imagens de Deus, eles optaram por usar o ícone da Trindade de Andrei Rublev como adequado para representar o Pai, o Filho e o Espírito Santo.


O ícone russo é difícil de entender para as pessoas de fora da tradição ortodoxa, e, à primeira vista, nem parece representar a Santíssima Trindade. A cena central do ícone vem do livro do Gênesis, quando Abraão recebe três estranhos em sua tenda:


“O Senhor apareceu a Abraão nos carvalhos de Mambré, quando ele estava assentado à entrada de sua tenda, no maior calor do dia. Abraão levantou os olhos e viu três homens de pé diante dele. Levantou-se no mesmo instante da entrada de sua tenda, veio-lhes ao encontro e prostrou-se por terra (…) Abraão serviu aos peregrinos [pães, um novilho tenro, manteiga e leite], conservando-se de pé junto deles, sob a árvore, enquanto comiam” (cf. Gênesis 18, 1-8).


O ícone de Rublev apresenta a cena com os três anjos, semelhantes na aparência, sentados a uma mesa. A casa de Abraão aparece ao fundo, bem como um carvalho atrás dos três convidados. Embora o ícone pinte esta cena do Antigo Testamento, Rublev usou o episódio bíblico para fazer uma representação visual da Trindade que se encaixa nas estritas diretrizes da Igreja Ortodoxa Russa.


O simbolismo da imagem é complexo e procura resumir a doutrina teológica da Igreja sobre a Santíssima Trindade. Primeiro: os três anjos são idênticos em aparência, correspondendo à fé na unicidade de Deus em três Pessoas. No entanto, cada anjo veste uma roupa diferente, trazendo à mente que cada pessoa da Trindade é distinta. O fato de Rublev recorrer aos anjos para retratar a Trindade é também um lembrete da natureza de Deus, que é espírito puro.


Os anjos são mostrados da esquerda para a direita na ordem em que professamos nossa fé no Credo: Pai, Filho e Espírito Santo. O primeiro anjo veste azul, simbolizando a natureza divina de Deus, e uma sobrepeça púrpura, indicando a realeza do Pai.


O segundo anjo é o mais familiar, vestindo trajes tipicamente usados por Jesus na iconografia tradicional. A cor carmesim simboliza a humanidade de Cristo, enquanto o azul é indicativo da sua divindade. O carvalho atrás do anjo nos lembra a árvore da vida, no Jardim do Éden, bem como a cruz sobre a qual o Cristo salvou o mundo do pecado de Adão.


O terceiro anjo veste o azul da divindade e uma sobrepeça verde, cor que aponta para a terra e para a missão da renovação do Espírito Santo. O verde é também a cor litúrgica usada em Pentecostes na tradição ortodoxa e bizantina. Os dois anjos à direita do ícone têm a cabeça ligeiramente inclinada em direção ao outro, ilustrando que o Filho e o Espírito procedem do Pai.


No centro do ícone há uma mesa que se assemelha a um altar. Colocado sobre a mesa, um cálice dourado contém o bezerro que Abraão preparara para seus hóspedes; o anjo central parece estar abençoando a refeição. A combinação dos elementos nos lembra o sacramento da Eucaristia.


Embora não seja a representação mais direta da Santíssima Trindade, é uma das mais profundas jamais produzidas. Permanece nas tradições ortodoxas e bizantinas a principal maneira de representar o Deus Uno e Trino. Este ícone, de fato, é tido em alta estima também na Igreja Católica Romana e é frequentemente usado por catequistas para ensinar sobre o mistério da Trindade.


E a Trindade é, em suma, um mistério – e sempre o será nesta terra. Às vezes, porém, nos são concedidos vislumbres da vida divina, e o ícone de Rublev nos permite espreitar brevemente por trás do véu.


ESTRUTURA GEOMÉTRICA


Como todo ícone, este também foi "escrito" com base numa estrutura geométrica muito precisa, na qual cada elemento tem uma proporção estabelecida em relação aos outros e encontra o seu lugar segundo o seu significado e o seu valor simbólico. Essa estrutura dá equilíbrio e harmonia a todo o conjunto.


Toda composição do ícone de Rublev foi construída sobre a Cruz, que constitui a estrutura geométrica principal. A sua vertical, como eixo central (E-P), liga a árvore, a cabeça do anjo central, o cálice e o retângulo dos mártires. A linha horizontal da cruz (F-G), liga a cabeça dos anjos laterais, passando pela fronte do anjo central, desde a arquitetura até o monte.


Os anjos aparecem sob um círculo que indica a plenitude e a perfeição e sublinha a circularidade dos olhares de Amor das Três Pessoas. A mão do anjo central é o centro da circunferência, onde estão as três cabeças.


Também o cálice, com a cabeça do cordeiro imolado sobre o altar, está dentro de um círculo, em torno do qual se concentram todos os outros, constituindo assim, o centro móvem do ícone. Acima da cabeça do anjo central (E) forma a ponta do triângulo, cuja base (A-B) é a linha inferior do ícone. O segundo triângulo se apresenta inverso. Sua base (C-D) é a linha superior do ícone.


Todo o ícone está inscrito em um octógono. "O número oito simboliza o poder celestial na Terra, o dia após o sétimo dia da criação, a ressurreição de Cristo e o começo da perfeição. A figura geométrica octógono, já é símbolo da perfeição desde a Antiguidade. É a fusão entre o infinito, o céu (círculo) e a área delimitada, os quatro pontos cardeais terrenos (quadrado)", o número simbólico dos quatro evangelistas: é o sinal da universalidade da Palavra.


O espaço compreendido entre os dois anjos laterais assume a forma de um cálice que sobe de baixo: o Pai e o Espírito Santo "contém" o Corpo e o Sangue de Cristo.


OS TRÊS ANJOS


Os três anjos, perfeitamente iguais e, todavia diferenciados, representam um só Deus em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.


É próprio da Santíssima Trindade diversificar, quanto ser una e indivisível, na sua essência e nas suas manifestações, embora na diversidade das Pessoas. Conhecemos o Pai através do Filho: Quem me vê, vê o Pai (Jo 14,19). Conhecemos o Filho através do Espírito Santo: Ninguém pode dizer Jesus Cristo é o Senhor, senão por meio do Espírito Santo (1 Cor 12, 3).


Os cetros idênticos indicam a igualdade do poder do qual cada anjo é dotado. A diversidade é expressa através das cores das roupas, mas sobretudo pela atitude pessoal de cada um em relação aos outros.


No anjo da esquerda se reconhece a figura Pai, no anjo central a do Filho e no anjo da direita a figura do Espírito Santo.


O PAI


O anjo da esquerda, o Pai, veste um manto lilás sobre uma túnica azul, símbolo da sua divindade. O lilás é uma cor evanescente, quase transparente, sinal do mistério e da transcendência.


O seu manto cobre os seus dois ombros, ao contrário do Filho e do Espírito, porque Ele não é enviado, mas envia os outros. Este seu envio é indicado também é indicado pelo pé esquerdo, que parece estar iniciando um passo de dança, ao qual o Espírito, enviado ao mundo depois do Filho, responde.


Tudo converge para ele, como para a fonte: os outros dois anjos, a rocha, a casa e a árvore. Está estático, reto, porque esta pessoa é a origem de si mesma: é o sinal da majestade e a referência para os outros dois.


O gesto da mão e o olhar parecem confiar uma missão ao Filho que a acolhe, curvado, em sinal de consentimento. As suas mão não tocam a Terra-altar, mas a abençoam com os dois dedos da mão direita levantados; Ele não está no mundo. A cabeça inclinada indica que ele acolhe a oferta amorosa do Filho.


O FILHO


O anjo central, o Filho, traja a túnica vermelha: simbolo da natureza humana assumida na encarnação; o manto azul é sinal da natureza divina da qual se "vestiu" depois da sua vida na terra e cobre um só ombro, porque Ele é enviado pelo Pai. A estola dourada indica a sua missão vitoriosa do Cristo "sumo sacerdote", que se deu a si mesmo para a salvação do mundo e ressuscitou.


O seu corpo curvado e o olhar de Amor voltado para o Pai indicam a aceitação e a docilidade à vontade paterna. Está comunicando com o Pai a respeito da missão que cumpriu.


A sua mão direita, apoiada à Terra-altar, é a mais próxima do cálice da oferta, porque ele é a oferta simbolizada pela cabeça do cordeiro. A mão reproduz o gesto de abençoar do Pai e o ato de apoiá-la à Terra-altar, indica a sua descida ao mundo através da encarnação; os dois dedos são símbolo das suas duas naturezas: Ele é plenamente Deus e plenamente homem.


O ESPÍRITO SANTO


O anjo da direita, o Espírito Santo, traz a túnica azul, símbolo da sua divindade, um manto verde-água, cor da vida, do crescimento e da fertilidade. No campo espiritual o verde é o símbolo da força vivificante do Espírito, que ressuscitou Cristo e comunicou ao mundo a plenitude do significado da Ressurreição.


É Ele quem dá a vida: o Espírito de Amor e da comunhão. Dos três, este é o anjo que tem a expressão mais reservada.


A sua figura é a mais curvada sobre a mesa, em atitude de escuta, de humildade e de docilidade. Revela-nos um aspecto novo do Amor, tipicamente feminino, que é também necessidade de ser acolhido, protegido, para ser fecundado.


A sua mão pendente sobre a Terra-altar indica a direção da bênção: o mundo ao qual o Espírito dá vida e crescimento, fazendo germinar o cálice do sacrifício e o seu fruto.


O Espírito está participando profundamente do diálogo divino e está pronto para ser enviado ao mundo para continuar a obra do Filho. O manto, apoiado sobre um dos seus ombros e o pé que está respondendo à dança iniciada pelo Pai, são símbolos do seu estar preparado para partir para cumprir a missão que lhe foi confiada: Quando o Espírito vier, Ele vos guiará a verdade toda inteira... dirá tudo que já foi dito e lhes anunciará as coisas futuras (Jo 16, 13).


Todo o simbolismo iconográfico do ícone da Trindade nos mostra a tese eclesiológica fundamental: a Igreja é uma revelação do Pai no Filho e no Espírito Santo.


OS OUTROS ELEMENTOS


Atrás do Pai se vê a casa de Abraão, que se tornou templo, morada do Pai e símbolo da Igreja, sua Filha, porque "corpo" de Cristo, segundo a teologia paulina.


O carvalho de Mambré se transforma na árvore da vida: a cruz de Cristo, o homem novo, pagou o resgate da humanidade.


A rocha-monte atrás do Espírito Santo é, ao mesmo tempo, símbolo de proteção, de lugar "teofânico", isto é, lugar onde Deus se manifesta e símbolo da ascensão espiritual.


O vitelo ofertado por Sara numa bandeja se torna o cálice eucarístico.


O ouro, símbolo da luz divina: o fundo e as auréolas douradas são símbolos da luz divina, como o sol é fonte de toda luz e cor.





No ícone a luz não é natural, mas espiritual; provém da graça recebida, por meio do Espírito, antes de tudo pelo iconógrafo, na contemplação do mistério que ele vai representar, depois por quem contempla o ícone com a mesma atitude de oração.