domingo, 27 de janeiro de 2019

Reflexões sobre a universidade no Brasil

Em tempos em que o anti-intelectualismo assume o poder (vertical) e ressoa nas atitudes das massas (horizontal), sempre é bom lembrar que fazer uma crítica da educação não é colocar-se contra ela, mas dentro dela para realizar mudanças. Não basta autodeclar-se  filósofo e gritar ofensas. Filosofia é, desde sua gênese, dialógica! Não basta falar mal do sistema educacional, é preciso lutar por ele e nele, ao lado dos que estão alí! O "não lutar" já é parte do currículo oculto do muito que é ensinado horizontalmente por aí: de que educar é quantificar resultados, é mensurar notas, é produzir profissionais.
Para mim, educar é conduzir, tirar e fazer sair o melhor do Outro a fim de que todos os outros (sociedade) sejam beneficiados. Nas palavras de Ulpiano:
"A nossa universidade não é uma universidade para produzir pensamento. A única coisa que se produz na universidade é obediência. Se ensina o estudante a obedecer. Tanto que eu luto com muitos de meus alunos quando eles começam a dizer para mim: “eu não suporto mais". Eu digo: “Aguenta a barra. Aguenta a barra e pega esse diploma. É um instrumento de guerra”. Porque a universidade só passa isso para nós. Quando você começa a verificar #aulas em que a questão passa a ser o pensamento o estudante fica inteiramente surpreendido. Ele não está habituado, não está formado para isso. Porque desde os 3 anos de idade ele não para de receber essas forças constituintes de marcas e sinais. E em linguagem literária o que se produz é um homem dos hábitos. Um homem que tem um conjunto de hábitos e julga que aquele conjunto de hábitos que ele tem é a natureza dele. Então é preciso passar uma força, - sobretudo a #literatura é muito bonita para isso - de #estranhamento. Abrir uma espécie de buraco, onde você começa a verificar que sua natureza não é o seu conjunto de hábitos. Quando a gente lê Michel #Foucault a gente fica muito surpreendido por causa dessas coisas. O Foucault quando vai pensar a homossexualidade grega diz: “a homossexualidade grega não tem nada ver com a homossexualidade do ocidente. Se vocês quiserem articular a homossexualidade grega com a do ocidente vocês não irão entender nada”. Aí o homem do hábito diz assim: “esse Foucault é um louco”. Aí Foucault diz: “Sou. Porque é preciso ser louco para vencer os hábitos”. Por isso que a loucura não para... A loucura e a #literatura, a loucura e a #arte, a loucura e a #filosofia não param de ser perseguidas pelas forças repressivas do campo social, psiquiatria e etc... Porque é exatamente isso. Para produzir esse mundo novo é preciso correr um risco muito grande. Correr um risco de pensamento. E - aqui é de uma beleza incrível - isso é o pensamento não naquilo que é real. E não naquilo que é possível. A questão do pensamento é produzir o impossível. Produzir o impensável. É exatamente o que #Nietzsche fez! É exatamente o que #Spinoza fez! Ir além de todos os limites que nos foram dado por #Kant, era o pensamento. Transgredir é muito mais do que transgredir, é produzir exatamente um novo. Produzir impossibilidades!"

(Cláudio ULPIANO in: Pensamento e Liberdade em Spinoza. Aula gravada em 1988, no Planetário da Gávea, Rio de Janeiro-RJ.)

#pensandoalto

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Diferença entre teoria, hipótese e lei para o pensamento científico


Vamos lá:
Lei, Teoria e Hipótese são termos de conceitos bem diferentes, mas geralmente confundidos como palavras de mesmo significado pelo senso comum e pelos religiosos menos atentos ao vocabulário científico.
É importante lembrar que meras opiniões não representam a "verdade" para a ciência (se é que se pode falar, de fato, de verdade na ciência. Então, entenda verdade como explicação possível). Para encontrarmos explicações fundamentadas sobre o funcionamento da natureza, precisamos seguir uma série de etapas que constituem o chamado método científico (observação, hipótese, experiência, análise, teoria). E são justamente os conceitos de teoria e hipótese que fazem parte desse método.
Mas, antes de vermos a diferença entre teoria e hipótese, precisamos definir o que é uma lei para a ciência.
"O que é uma lei?"
Uma lei é a generalização de um conjunto de observações, não tendo sido encontrada nenhuma exceção a tais observações.
Considere as leis do movimento de Newton: a terceira delas, conhecida como Lei da Ação e Reação, diz que para uma força aplicada por um corpo A sobre um corpo B, é aplicada pelo corpo B sobre o corpo A uma força de mesma intensidade, mesma direção e em sentido oposto.
Isso explica o que ocorre (a interação entre corpos que aplicam forças entre si), mas não descreve como/por que acontece uma força de reação para toda força de ação.
Qual a diferença entre teoria e hipótese?
As #hipóteses são conjecturas, especulações, previsões sobre determinado fenômeno da natureza e como ele se comporta. Hipóteses devem ser testadas, o que normalmente é realizado por meio de experiências.
As #teorias são explicações bem fundamentadas para descrever eventos que ocorrem na natureza. Envolvem hipóteses já testadas exaustivamente, fatos e leis.
Uma teoria pode soar como uma explicação definitiva, mas pode vir a ser derrubada com o passar dos anos.
Como sou de filosofia, vou falar da minha área: Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) defendia a teoria da geração espontânea (abiogênese), baseando seus estudos em ideias já aceitas como verdade por outros pensadores. A teoria da geração espontânea consistia em explicar o surgimento de vida a partir de matéria inanimada, sem a necessidade de um meio reprodutivo. Seria como se larvas fossem geradas a partir da carcaça de um animal morto ou ratos surgissem de uma toalha úmida deixada com restos de alimentos em um quarto escuro.
Hoje, isso não faz sentido para nós. Mas, por muito tempo, essa foi a teoria dominante.
Séculos depois, cientistas que desconfiavam da teoria da geração espontânea formularam a hipótese de que os seres vivos se formam a partir de outros seres vivos (biogênese). Por meio de experimentos, ficou provado que os seres vivos não surgem aleatoriamente e precisam se reproduzir para dar origem a outros seres vivos.
Com os trabalhos e descobertas de diversos cientistas, a hipótese da biogênese foi elevada a teoria, pois foi demonstrada como correta e derrubou a teoria da geração espontânea.
E então, ficou clara a diferença entre teoria e hipótese?
Dizer que a evolução é uma teoria significa dizer que não há comprovação sequer suficiente para que ela seja refutada. Se a fé no  Deus criador é madura, a evolução não a inválida, uma vez que a fé afirma que Deus é o único Criador dos seres visíveis e invisíveis, mas não determina "como" Ele o fez.
O livro do Gênesis precisa ser lido no seu contexto histórico, teológico e de composição... Ou não será nunca lido de verdade!

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

A fé cristã católica e as armas

Tenho visto algumas pessoas usando trechos do CEC (Catecismo) para dizer que a Igreja apoia o uso de armas de fogo. Contudo, essa é um interpretação indevida dos textos! O que está sendo discutido nos textos citados (e que transcrevo abaixo) é a legitimidade de defender a própria vida. Quanto a posse de armas de fogo, é a legislação que a deve chancelar, isto é de competência do Estado. É uma falácia dizer que o direito à legítima defesa supõe, necessariamente, a posse, antecipada ao ato de perigo, de uma arma de fogo. Não estou dizendo que aqueles que defendem a maior flexibilização das leis que permitem a posse estejam errados, bem como não estou dizendo que estão errados os que estão contra essa flexibilização. Estou dizendo, apenas, que a legítima defesa supõe uma ação diante de uma ameaça e que usar o discurso eclisiástico como o de apoio irrestrito é, no mínimo, questionável! O texto é claro ao dizer que "repelir pelas armas" compete às autoridades, o que no contexto da redação do Catecismo significa as instituições. Não quero polemizar, mas não acho justo que se tire o texto de seu contexto para que sirva de pretexto para se defender um ponto de vista. Um texto tem intencionalidade comunicativa clara e esta deve ser respeitada. Além disso, cabe a liberdade das consciências o juízo sobre o modo de proceder diante da agressão. Sendo assim, usar o texto no atual cenário de discussão política sem ater-se a ele pode, sim, ser má fé inspirada na real intenção de promover a própria visão de bem! O que imposta é tentar colaborar com a verdade, mesmo que isso signifique abrir mão das opiniões particulares... Segue os parágrafos do CEC:

"2263 – A legítima defesa das pessoas e das sociedades não é uma exceção à proibição de matar o inocente, que caracteriza o homicídio voluntário. “A ação de defender-se pode acarretar um duplo efeito: um é a conservação da própria vida, o outro é a morte do agressor… (S. Tomás de Aquino, S. Th. II-II, 64,7). Só se quer o primeiro; o outro não” (idem). 2264 – O amor a si mesmo permanece um princípio fundamental da moralidade. Portanto, é legitimo fazer respeitar o próprio direito à vida. Quem defende sua vida não é culpável de homicídio, mesmo se for obrigado a matar o agressor:

Se alguém, para se defender, usar de violência mais do que necessário, o seu ato será ilícito. Mas se a violência for repelida com medida, será lícito…

E não é necessário para a salvação omitir este ato de comedida proteção, para evitar matar o outro; porque, antes da de outrem, se está obrigado a cuidar da própria vida (ibidem).

 2265 – A legítima defesa pode ser não somente um direito, mas um dever grave, para aquele que é responsável pela vida de outros, pelo bem comum da família ou da sociedade.
Preservar o bem comum da sociedade exige que o agressor se prive das possibilidades de prejudicar a outrem. A este título, o ensinamento tradicional da Igreja reconheceu como fundamentado o direito e o dever da legítima autoridade pública de infligir penas proporcionadas à gravidade dos delitos, sem excluir, em casos de extrema gravidade, a pena de morte. Por razões análogas os detentores de autoridade têm o direito de repelir pelas armas os agressores da comunidade civil pela qual são responsáveis.

2266 – A pena tem como primeiro efeito compensar a desordem introduzida pela falta. Quando esta pena é voluntariamente aceita pelo culpado, tem valor de expiação. Além disso, a pena tem um valor medicinal, devendo, na medida do possível, contribuir para a correção do culpado."

Além disso, o Compêndio de Doutrina Social da Igreja diz:

508: A doutrina social propõe a meta de um «desarmamento geral, equilibrado e controlado». O enorme aumento das armas representa uma ameaça grave para a estabilidade e a paz. O princípio de suficiência, em virtude do qual um Estado pode possuir unicamente os meios necessários para a sua legítima defesa, deve ser aplicado seja pelos Estados que compram armas, seja por aqueles que as produzem e as fornecem. Todo e qualquer acúmulo excessivo de armas ou o seu comércio generalizado não podem ser justificados moralmente; tais fenômenos devem ser avaliados também à luz da normativa internacional em matéria de não-proliferação, produção, comércio e uso dos diferentes tipos de armamentos. As armas não devem jamais ser consideradas à guisa dos outros bens intercambiados em plano mundial ou nos mercados internos.

O Magistério, ademais, expressou uma avaliação moral do fenômeno da dissuasão: «A acumulação de armas parece a muitos uma maneira paradoxal de dissuadir da guerra os eventuais adversários. Vêem nisso o mais eficaz dos meios suscetíveis de garantir a paz entre as nações. Este procedimento de dissuasão impõe severas reservas morais. A corrida aos armamentos não garante a paz. Longe de eliminar as causas da guerra, corre o risco de agravá-las». As políticas de dissuasão nuclear, típicas do período da chamada Guerra Fria, devem ser substituídos por medidas concretas de desarmamento, baseadas no diálogo e na negociação multilateral.

509 As armas de destruição de massa – biológicas, químicas e nucleares – representam uma ameaça particularmente grave; aqueles que as possuem têm uma responsabilidade enorme diante de Deus e de toda a humanidade.O princípio da não proliferação das armas nucleares juntamente com as medidas de desarmamento nuclear, assim como a proibição dos testes nucleares, são objetivos estritamente ligados entre si, que devem ser atingidos o mais rápido possível mediante controles eficazes no plano internacional.A proibição de desenvolvimento, de aumento de produção, de acúmulo e de emprego das armas químicas e biológicas, assim como as decisões que impõem a sua destruição, completam o quadro normativo internacional para o abandono de tais armas nefastas, cujo uso é explicitamente reprovado pelo Magistério: «Toda a ação bélica, que tende indistintamente para a destruição de cidades inteiras e de extensas regiões com os seus habitantes, é um crime contra Deus e contra o próprio homem, e como tal deve ser condenada firmemente e sem hesitação».

510 O desarmamento deve estender-se à interdição das armas que infligem efeitos traumáticos excessivos ou cujo efeito é indiscriminado, assim como as minas anti-homem, um tipo de pequenos dispositivos, desumanamente insidiosos, pois que continuam a provocar vítimas mesmo muito tempo depois do fim das hostilidades: os Estados que as produzem, as comercializam ou as usam ainda são responsáveis por retardar gravemente a definitiva interdição de tais instrumentos mortíferos. A comunidade internacional deve continuar a empenhar-se na atividade de desativação das minas, promovendo uma cooperação eficaz, inclusive a formação técnica, com os países que não dispõem de meios próprios adequados para efetuar a urgentíssima depuração de seus territórios e que não são capazes fornecer uma assistência adequada às vítimas das minas.

511 Medidas apropriadas são necessárias para o controle da produção, da venda, da importação e da exportação de armas leves e individuais, que facilitam muitas manifestações de violência. A venda e o tráfico de tais armas constituem uma séria ameaça para a paz: estas são as armas mais utilizadas nos conflitos internacionais e a sua disponibilidade faz aumentar o risco de novos conflitos e a intensidade daqueles em curso. A postura dos Estados que aplicam severos controles sobre a transferência internacional de armamentos pesados, mas não prevêem nunca, ou tão-somente em raras ocasiões, restrições sobre o comércio das armas leves e individuais, é uma contradição inaceitável. É indispensável e urgente que os governos adotem regras adequadas para controlar[...]

#pensandoalto #teologia #filosofia #letras

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Como usar agendas? (Orientação e dicas)

Sempre escuto das pessoas próximas que elas me acham muito organizado. Na verdade, essa organização é fruto de mais de duas décadas de experiência com agendas. Hoje, eu não uso mais agenda. Atualmente tenho usado o #BulletJournal. Temos uma vida bem agitada, e confiar na mente pode nos levar a esquecer inúmeros eventos e compromissos. Por isso, utilizar agenda é importante. Nela, anotamos o que nossa mente não pode armazenar e, na mente, damos vida criativa a essa ação ou evento.
A agenda é o caminho confiante do que você tem a realizar ao longo do dia e da semana. Existem diversos tipos de agendas: eletrônicas ou aplicativos como o Google Agenda, impressas, os planejadores (popularmente conhecidos por planners), o bullet journal… E cada tipo, corresponde a um estilo pessoal de organização. Mas, em todas elas o caminho é o mesmo: anotar eventos de rotina, compromissos, lembretes e prazos, e atividades pontuais.
Um erro comum ao utilizar agendas é fazer das páginas infinitas listas de desejos e tarefas. Isso mesmo, coisas desejáveis e tarefas não entram na agenda. A agenda não é um livro de sonhos, é o espaço onde o agora tem o seu lugar. Para sua lista de desejos e tarefas, tente utilizar um caderno de projetos ou a página de anotações fora das áreas datadas da sua agenda. Para ficar mais claro, lembre-se que os tipos de eventos que entram na agenda são:
  1.  #COMPROMISSOS com data e horário para acontecer (festas, cursos, atividades, seminários, palestras…).
  2. #ROTINA, como aquilo que já faz parte do seu dia a dia. As ações recorrentes, por exemplo, o tempo que você passa no trânsito, os dias de trabalho.
  3. #LEMBRETES E #PRAZOS, que são as informações que precisam ser acessadas em dias específicos: vencimentos de contas, entregas de relatórios, e também aniversários.
  4. E os #PONTUAIS, que são as atividades que DEVEM ser feitas em uma data sem mais ou menos. As ações pontuais, não são os desejáveis, são os que realmente farei e que devem ser selecionadas com critério e atenção para não haver choque com outros eventos. Exemplo: retiros, congressos, reciclagem…
Outra coisa importante é que no passar do dia vamos recordando algumas coisas que não haviam entrado na agenda. Se for algo já com data e horário definido, anote! Caso exija que você pense melhor em como se dará esse evento, anote num caderno a parte, para que ao final do dia, você processe a informação coletada e adicione no momento ideal da sua agenda.
Para diferenciar os eventos, escreva sempre com uma única cor de caneta, e tenha marcadores de texto de cores diferentes. (#Colorcode) Determine para cada categoria de evento uma cor…
  1. Compromissos – AZUL
  2. Rotina – LARANJA
  3. Lembretes e prazo – VERMELHO
  4. Pontuais – VERDE
E não esqueça: não confiar na mente. Ela não foi feita para armazenar informações, por mais que você seja bom em lembrar. Anote tudo. É ideal que ao escolher sua agenda, você saiba que ela precisará andar com você! Muitos dizem que não sabem usar uma agenda, ou que precisam aprender um método de organização, mas a verdade é que você precisa conhecer sua agenda e tê-la com você. Se você não sabe qual tipo de agenda utilizar, confira a seguir algumas vantagens, funções e desvantagens dos modelos citados:
  • A agenda DIGITAL, é fácil de levar a qualquer lugar. Possui como vantagem a capacidade de sincronização com outros dispositivos, contas e computadores; permite também o compartilhamento de eventos com outros usuários. Cria datas recorrentes com uma única tarefa, podendo inserir anexos, links, e ativar notificações… A desvantagem é utilizar o celular em lugares perigosos ou estar o tempo todo conectado.
  • As agendas IMPRESSAS são simples e tradicionais e tem como vantagem o formato pronto, pequeno e facilmente portátil. A desvantagem é o espaço e o modo que nem sempre comporta toda informação que você precisa capturar, mas que com criatividade você pode transformar em um grande instrumento de organização.
  • O PLANNER é uma moda atualmente, e é bem mais personalizável. Possui sessões específicas e você pode escolher de acordo com suas necessidades. A desvantagem é o preço. Bons planejadores não são baratos – variam de R$ 60 a R$ 400 reais. Podendo ser utilizado e refeito com meios mais baratos, basta ativar seu modo criativo.
  • BULLET JOURNAL é um modelo democrático criado por um designer que buscava algo minimalista. É um caderno + data + listas. É caracterizado pelo uso de símbolos, traços, bolinhas e desenhos. Sua vantagem é que não é preciso esperar datas e pode ser feito com qualquer caderno. Já existem técnicas que favorecem e ensinam a personalização. É simples e barato.
Para finalizar: um segredo
Para que o uso da agenda funcione, é preciso a revisão semanal. Tente antes da semana começar revisar os eventos e se organizar para cumpri-los, como também no final da semana, revisar o que foi adiado, realizado ou cancelado, porque isso pode determinar o andamento das semanas seguintes. Revise sem culpa do que não foi cumprido, e não se acomode com os erros e os esquecimentos, que poderão acontecer.
Também revise sua agenda do dia, logo no início da manhã. Tenha como meta zerar os compromissos, com o melhor de si. Tenha foco e responsabilidade e trabalhe no que está programado, preparando-se para lidar com imprevistos. Para os imprevistos é bacana também deixar tempos de respiro na agenda, não coloque tudo que precisa ser feito naquele dia. Analise, revise, e sabia até onde você pode ir e quanto tempo pode investir.
Organização é discernimento e autoconhecimento. Com esses  pontos, você conseguirá administrar seus eventos em 2019!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Para lidar com políticos intolerantes, inspire-se em Voltaire

Diante das mentiras, é preciso ter perspicácia e paixão pela justiça, escreve Robert Darnton

Estamos vivendo uma mudança climática na política. Preconceito, bullying, desonestidade, vulgaridade... Tudo o que é emitido pelos tuítes de Donald Trump e ampliado por seus simpatizantesdanifica a atmosfera da vida pública. A camada protetora de civilidade, que torna o discurso político possível, está desaparecendo como o ozônio ao redor da Terra.
Como podemos recuperar um ambiente saudável? Não há soluções simples, mas algumas figuras históricas oferecem exemplos edificantes. A que eu menciono aqui pode parecer um tanto improvável, mas ele foi um homem que transformou o meio de seu tempo: Voltaire, o filósofo francês que mobilizou o poder dos princípios iluministas na Europa do século 18.
Tudo bem, sei que só um acadêmico como eu faria uma proposição dessas. Quem é que, nos EUA, tem algum interesse em Voltaire? Os universitários às vezes leem "Cândido" como um conto, que o público já aplaudiu como a opereta de Leonard Bernstein, mas o livro termina com um refrão que soa como o quietismo: "Cultivemos nosso jardim."
Na verdade, acho que essa última linha, que está entre as mais famosas da literatura, deve ser compreendida como um apelo ao engajamento. "Cultivo" aqui significa um compromisso com a cultura, a civilidade, a própria civilização. E é esse o meu argumento.
Para quem depara com Voltaire pela primeira vez, ele pode dar a impressão de ser uma curiosidade histórica: sua peruca arcaica e o humor libertino parecem pertencer a um canto esquecido do passado.
Pior ainda, pode ser considerado conservador, tendo se insinuado entre os poderosos, principalmente Luís 15 —e se imiscuiu tão profundamente no sistema cultural desenvolvido sob o regente francês anterior, Luís 14, que, se fosse hoje, seria reprovado em qualquer teste de correção política. Além disso, opôs-se à educação das massas, porque, como dizia, alguém tinha de cuidar da lavoura.
Bom, então esqueça a peruca, mas repense a sagacidade. Nada é mais eficiente do que ridicularizar um racista intolerante, colocando-o em seu devido lugar. "Sempre fiz uma única oração a Deus, e bem curta: 'Ó Senhor, torne meus inimigos ridículos.' E Ele me atendeu", escreveu.
A primeira das duas armas mais poderosas de seu arsenal era o bom humor: "Temos de trazer o riso para o nosso lado", instruía a seus auxiliares nos salões de Paris.
A ridicularização funciona fora deles também; nos EUA, temos Stephen Colbert na TV, tivemos H. L. Mencken no jornal e Mark Twain nos livros. Porém a perspicácia pode soar elitista, e Voltaire cultivava a elite, especialmente durante a juventude, quando exaltava a riqueza, os prazeres e as boas coisas da vida. Seu poema "O Mundano", escrito em 1736, é uma apologia do luxo terreno —"o supérfluo, uma coisa tão necessária", escreveu ele, em oposição ao ascetismo cristão.
Esse era Voltaire, o jovem libertino; entretanto, hoje, em meio à nossa crise contemporânea, sugiro inspirarmo-nos também em Voltaire, o idoso revoltado. Foi na velhice, durante as décadas de 1760 e 1770, que ele usou sua segunda arma mais poderosa: a paixão moral.
Em 1762, Voltaire ficou sabendo de um crime judicial: o Parlamento de Toulouse condenara um mercador protestante, Jean Calas, a ser torturado e executado por supostamente ter matado o próprio filho, cuja suposta intenção era se converter ao catolicismo. Acontece que não só as suposições estavam erradas, como havia fortes evidências da inocência de Calas.
Para Voltaire, o caso representava muito mais que um erro judiciário: simbolizava as atrocidades infligidas aos protestantes durante mais de dois séculos. Eles tinham sidoassassinados, expulsos do país, forçados à conversão ao catolicismo e privados de seus direitos civis, inclusive o de se casarem e herdarem propriedades dentro da lei. Além da perseguição aos protestantes, Voltaire viu uma intolerância generalizada e, além dela, a barbárie.
Pegou a caneta e compôs "Tratado sobre a Tolerância", uma das defesas à liberdade religiosa e aos direitos civis mais brilhantemente escritas até hoje. E também enviou cartas,centenas delas, a todos os seus contatos na elite poderosa: ministros, cortesãos, líderes da sociedade e colegas filósofos.
Mexeu com todo mundo, dos mais poderosos aos mais insignificantes, manipulando a imprensa da época com tanta habilidade que criou uma verdadeira onda na opinião pública, que acabou levando ao reconhecimento dos direitos dos protestantes em 1787, nove anos após sua morte.
Voltaire terminava muitas dessas cartas com um grito de alerta: "Écrasez l'infâme", ou "Acabem com o infame" —termo que, para ele, ia além da intolerância, incluindo a superstição e as injustiças de todo tipo.
O conceito oposto ao da tolerância obscureceu valores mais amplos, incluindo a civilidade, virtude de que tanto necessitamos hoje em dia e que Voltaire identificou com a civilização.
Voltaire viu o triunfo desta última sobre a barbárie como o bem supremo inscrito no processo histórico —e deixou a mensagem bem clara em sua obra mais ambiciosa, "Essai sur les Moeurs et l'Esprit des Nations", "Ensaio sobre os Costumes e o Espírito das Nações", uma pesquisa da história do mundo que publicou pela primeira vez em 1756, mas revisou e continuou expandindo até sua morte, em 1778.
A que mais podemos aspirar na era Trump? A oposição à intolerância e a defesa dos direitos civis novamente pedem um engajamento com a causa da civilização. Exigem paixão moraltemperada com argúcia.
Cultivem jardins. Écrasez l'infâme.

Robert Darnton é professor emérito da Universidade Harvard.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Análise filosófica de "Pedrinho" de Tulipa Ruiz

"em qualquer sociedade, o corpo está preso no interior de poderes muito apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações” (#FOUCAULT)

O corpo é um lugar de existência, de re-existência e de fala; é uma realidade política e artística na produção de si mesmo. Todo mundo passa por uma opressão natural (ou naturalizada e comunizada pela sua frequente repetição, nunca saberei, ou  será que sei?!) da sociedade com relação aos corpos, principalmente os corpos estranhos à sociedade, o corpo do Outro (pobre, negro, indígena, mulher, homossexual, doente, velho, ...) já nasce oprimido, por causa do padrão estético imposto. A opressão matou e ainda mata muitos Pedrinhos por dentro, nas oportunidades sociais e, infelizmente, na prática real e concreta do homicídio. No clipe, o ato de se desnudar é também uma ação de se enxergar, de enxergar o Outro. O céu funciona como um espaço lúdico e onírico, uma metáfora do lugar do real, onde os atos de destampar os olhos, retirar as roupas, apertar as mãos, tocar o Outro, são ações de tatear os corpos ali presentes, libertar-se de qualquer amarra, é sobre sentir-se enfim livre para ser e fazer-se, para tornar-se quem se é!

#filosofia #arte #letras
#pensandoalto

Música: #Pedrinho
Artista: Tulipa Ruiz
Álbum: Tu

Censura livre

Quando a ignorância começa a ser aplaudida, em pouco tempo assume o poder! Desse modo, através dos dispositivos coercitivos, vai alimentando uma segunda onda de ignorância e de bestialidade. No fim, as consciências acordam quando são tocadas pela censura. Contudo, já é tarde ...

Quero deixar claro algumas coisas: o palácio é residência do presidente, mas é uma realidade pública. Quero dizer que o que lá se encontra de arte é manifestação, pelo menos intencional, da brasilidade.
Depois, a posição religiosa do presidente não importa para o exercício da função e, portanto, para a residência. É triste ver o nível de ignorância religiosa nessa decisão. A falta de respeito com a cultura histórica. Sem falar do aspecto microfísico do poder, ou seja, de como esse ato simples reverbera em atos posteriores de intolerância.
Antes que venham dizer, não estou falando por ela ser do clã do presidente. Isso pouco importa. Estou falando da ação. Está é lamentável!

O que me leva a ecoar a reflexão do Tauat Augusto Resende, uma das mentes jovens que mais admiro:

"A primeira dama Michelle Bolsonaro visitou o Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, e solicitou a retirada de obras de arte sacras do Palácio: quadros históricos e imagens sacras do século XVIII serão retirados do Alvorada. O que está em marcha no país é o retrocesso obscurantista daqueles que não tem noção nenhuma do que significa república, confundindo-a com sua profissão de fé. Tampouco há, nesse gesto, qualquer respeito pela laicidade do Estado. Há um revanchismo religioso, em que se pretende substituir uma confissão por outra. As artes católicas e de religiões de matrizes africanas que ornam o Palácio são produto da cultura brasileira e pertencem ao povo brasileiro, não ao presidente eleito e sua família. Na história do Brasil, o único presidente que fez isso foi o ditador Ernesto Geisel, que era luterano e escondeu o mesmo quadro das Orixás que agora Michelle não quer ver. O pior é ver a direita católica, que costuma ser tão barulhenta e espalhafatosa, caladinha. É, porém, compreensível, visto que nos últimos anos ficou à reboque dos protestantes e sonha no dia em que terá líderes fortes e que arrastem multidões como os neopentecostais. Afinal, foi a isso que se reduziu o conservadorismo católico brasileiro: se tornar linha auxiliar dos evangélicos. E o pior é que não há ecumenismo nenhum nessa postura. Há tão-somente subserviência e síndrome de vira-lata. O Estado fundamentalista evangélico do Brasil avança com a bênção da direita católica."

Enfim, as ações são o bater de asas de uma borboleta: podem causar um tufão do outro lado do mundo.

#pensandoalto

Para entender o filme Bird Box

O longa Bird box, adaptado de um livro homônimo, tem um enredo interessante se estivermos atentos a alguns detalhes:

A narrativa gira em torno de uma mulher, o que desconstrói a noção de heroísmo do Ocidente.

A personagem principal é a chave para entender a noção de gaiola ou de aprisionamento: desde o começo, a personagem se isola do mundo, não se conecta com as pessoas, manteve-se distante de tudo e de todos, e até de seus quadros, que permanecem incompletos.

"Os seres" me parecem a promessa Ocidental de "purificação da humanidade". Isso fica evidente pela contraposição entre a opressão causada por aquela realidade que as pessoas vêm e a realidade das coisas como elas são na natureza. Tal oposição faz pensar em como o mundo está invadido por imagens que nos oprimem e nos levam por um caminho de auto-aniquilação, uma sociedade "espetacular" que vai envenenando a mente humana e fazendo com que nossos "demônios" interiores aflorem, ganhem força e nos dominem, até que nos matem por nossas próprias "escolhas livres" (livres na aparência, mas condicionada pela "realidade que vimos ao olhar").
Sim, o suicídio na narrativa é um símbolo de como as pessoas estão cometendo suicídio na existência ao abrirem mão da vida para lançar-se em uma ilusão de felicidade. Essas pessoas são a maioria da humanidade. Outras pessoas são afetadas de um outro modo: se encantam com o caos e com o terror e desejam que os outros enxerguem o mal como beleza, acabando por matar a todos nesse processo. Estas pessoas são aquelas que não internalizando o mal, mas os manifestam socialmente. São os "loucos" no sentido de serem aqueles que já instauram o mal com seu agir.

Além do aspecto psicológico dos "seres", há uma referência aos "regimes políticos de promessas" em que se pretende "fazer o fim do mundo grande novamente", uma clara menção a fala de Trump, muito comum nos discursos de alguns candidatos ao redor do mundo.

Vale a pena perceber como os personagens são muito distintos, tanto nas etinias quanto nas opções de vida, na sexualidade e nos sonhos. Tal fato manifesta que a loucura da "sociedade do espetáculo" afeta a todos em todas as condições existenciais que se colocam. Além disso, os personagens satélites mostram como as pessoas contemporâneas se chocam com a dor e o sofrimento alheio momentâneamente, facilmente distraindo-se com seus interesses e prazeres mais viscerais. Várias cenas chamam a atenção para isso, mas a mais clara é a chegada ao mercado, onde tudo o mais foi relativizado pelo prazer do ter e do consumir, onde o luto desaparece justamente por nunca ter sido real, mas apenas "políticamente esperado".

É importante notar que a personagem Malorie é um símbolo da humanidade que possibilita a existência do outro e do futuro, quando abre mão de si para dar vida a existência dos outros. Somente quando Malorie se conecta com Tom ela escuta uma resposta no comunicador; somente quando se conecta com o Garoto e a Garota, se abrem as portas para que se vislumbre a verdadeira vida em colaboração e comunhão social, na possibilidade de viver mais que sobreviver.

"A Caixa de Pássaros" é a realidade (ou metáfora) dos homens, que vislumbram luz, mas se percebem presos. Contudo, essa prisão não precisa ser opressiva como o estar fora, submetido aos "seres". O enredo se encerra em uma escola para cegos, em que os sobreviventes estão presos, mas livres. Presos porque fora há perigo, mas livres porque entenderam que a liberdade é uma responsabilidade, por si mesmos e pelos outros, e pelos outros dos outros. Responsabilidade ética que não se realiza sem conexão.

É interessante que a colônia de sobrevivência seja em uma escola de cegos, em um lugar em que a conexão com o outro não acontece pela visão ou pela virtualidade. A conexão é realizada pela proximidade e pelo toque, não pela solidão engaiolada das virtualidades.

Não se deve fazer a leitura do enredo pelo viés de filme pós-apocalíptico. O enredo quer discutir a noção de humanidade contemporânea. Nesse sentido, a produção foi bem fiel ao gênero apocalipse, à revelação do aqui e agora por meio de uma linguagem simbólica.

Fica a dica para uma sessão pipoca com a Netflix !

#pensandoalto

A esquizofrenia do "menino veste azul e menina veste rosa"

Vamos lá:
A 'inoscente' (por favor, veja a ironia que estou usando ao aplicar esse vocábulo) frase "menino veste azul e menina cesta rosa" (não é fakenews, o vídeo está aí para quem quiser) é a manifestação da hipocrisia de um governo que escalou o poder com o discurso de que "nenhum viés ideológico deve ocupar o poder". Ora, além de ser uma frase paradoxal, torna-se, agora, um atestado de hipocrisia.
Você deve estar articulando a seguinte oposição: "Mas menino (a) tem que vestir..." Por favor, não termine! E não, não estamos falando de 'ideologia de gênero', estamos falando de pessoas humanas. Olha, a primeira coisa que é importante saber é que não existe ideologia de gênero, mas questões de gênero. Além disso, gênero é o vocabulário que se usa para falar dos papéis sociais assumidos pelos indivíduos na sociedade. Perceba que isso não tem a ver com sexualidade, mas com a possibilidade de um homem ser x coisa geralmente atribuída a mulher e de uma mulher ser y coisa geralmente atribuída a um homem. É disso que se fala ao falar de gênero!
Outra questão é saber que papéis de gênero não influenciam na sexualidade. Queria te dizer que o uso de uma cor não torna alguém mais hétero ou mais homo. A questão da sexualidade permanece ainda uma questão de investigação das ciências, sem uma resposta definitiva até hoje. Porém, o discurso assumido pela ministra acaba sendo perigoso, porque rompe a normalização e normalidade da diversidade, fazendo com que a massa escute que o menino que veste rosa seja visto como menos menino e, consequentemente, alguém que precisa ser normatizado. O problema é que a normatização, às vezes, faz-se por meio da violência verbal, social, emocional e física! Tal postura tende a invisibilizar as diferenças individuais que as pessoas tem. Tal processo já começou com a exclusão da comunidade LGBT da M.P. 870/19. Publicados nesta quarta-feira no Diário Oficial da União (D.O.U.), a Medida Provisória 870 e o decreto 9.668 “rebaixaram” a população LGBTI na formulação das políticas e diretrizes de direitos humanos no país. Antes objeto do trabalho de uma secretaria nacional na estrutura do ministério, a exemplo das que contemplam as pessoas com deficiência, crianças e adolescente e o combate à violência contra as mulheres, entre outras, a promoção dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais agora ficará a cargo de uma diretoria subordinada à Secretaria Nacional de Proteção Global, o que representa uma perda de status desta população dentro do sistema, uma silenciamento simbólico daquilo que se perpetua na prática política. Contudo, isso é coerente com a frase do presidente de que "as minorias devem se curvar às maiorias".
Por favor, entenda que não estou "defendendo" a prática LGBT ou a identidade de gênero. Estou, isso sim, defendendo a liberdade das pessoas serem quem são e realizarem seus projetos de vida em uma sociedade que possibilite igualdade perante a lei e a proteção do indivíduo, independente de sua cor, sexo, religião, sexualidade e condições sociais. O que desejo é que o meu próximo tenha aquilo que também desejo para mim: respeito e liberdade de construção do seu projeto de vida dentro do bem comum...

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