quinta-feira, 28 de julho de 2016

Anel de Tucum: história, sentido e significado


Essa semana, uma aluna veio perguntar-me o sobre o anel preto que ocasionalmente uso na mão direita. O famoso “anel de Tucum”. Ela usava um também, meio que por meio da formação de sua Diocese, que possuía uma forte experiência passada com a Teologia da Libertação e, conseqüentemente, alguns aspectos ainda eram presentes no comportamento dos fieis.

Para precisarmos nossa conversa, Anel de tucum é um anel feito da semente de tucum, uma espécie de palmeira nativa da Amazônia. É utilizado por fiéis cristãos como símbolo do “compromisso preferencial” das igrejas, especialmente da Igreja Católica, com os pobres. Sim, essa expressão vem dos anos posteriores ao Concílio Vaticano II e foi assumida e repetida nos CELAM’s de Medellin e Puebla.


O uso de anéis é muito antigo e está mais ligado a um simbolismo ritual que a simples prática de adorno corporal. O anel mantinha uma dimensão sagrada como símbolo do que é santo, divino, intacto. Desde os egípcios, assírios, persas, o anel tem essa simbologia sagrada, de união, de compromisso, muito além de simples adorno. No corpo das Sagradas Escrituras, é símbolo de pacto de paz ou matrimonial, alem de revelar a dignidade de pertença a uma determinada família. Faço essa digreção histórica para que possamos perceber que o anel de tucum não é um modismo atual e, menos ainda, a compra da ideologia teológica marxista da Teologia da Libertação, mas antes, pode significar a adesão a um projeto de vida que se oriente para a simplicidade evangélica.

Na época do Império no Brasil, quando o ouro era usado em grande escala entre os ricos proprietários de terra, principalmente nos anéis, os negros e os índios, não tendo acesso ao ouro, criaram o ANEL DE TUCUM como símbolo de pacto matrimonial, símbolo de amizade entre si e também de resistência na luta por libertação. É o processo que Pierre Bordieu chama de dominação simbólica, em que os símbolos da classe dominante vai sendo assumido de forma adaptada pela classe imediatamente inferior, em um processo inconsciente de afirmação de que a classe dominante tem os critérios desejáveis de vida.

O objetivo é resgatar este símbolo é o compromisso e denunciar as causas da pobreza. Este é o compromisso simbolizado nesta aliança natural e escura, cuja única riqueza é a simplicidade.

Além da Bíblia, a opção pelos pobres é testemunhada também por toda a tradição da Igreja, principalmente na experiência dos santos. Esta opção é a essência mesmo da vida cristã porque está ligada à imitação da vida de Cristo. Mas esta opção não é apenas uma responsabilidade individual ou a decisão para revolta e mudança social, se caracteriza por um posicionamento existencial diante da vida, do outro e de Deus, do Deus que está do lado dos pobres porque ama os pobres. Por isso o cristão é chamado a seguir este mesmo exemplo de amor e opção preferencial que tenta promover a dignidade humana. No pobre revela-se o rosto do próprio Deus (Mt 25,40).

Infelizmente, na sociedade líquida em que vivemos, também o poder dos símbolos vai se perdendo. Alguns, sem base e conhecimento algum, afirmam que o anel de tucum é um modo de anunciar a própria homossexualidade ou um adereço do fã club de determinada artista. Grande ignorância que não percebe que o dito artista usa o anel por suas raízes Católicas. Quanto a questão da sexualidade, infelizmente tal confusão vem do fato de que a teologia da Libertação, por sua base marxista, acabava relaxando muitos aspectos da doutrina eclesiástica, misturando o verdadeiro empenho pelo Reino de Deus com a ambição desmedida de instaurar um governo comunista na América Latina.

Não quero demonizar a teologia da Libertação, uma vez que reconheço profundos valores evangélicos e sociais nela, contudo, por uma questão de consciência, sou obrigado a reconhecer que sua proposta de solução é puramente materialista e não reconhece que o homem e a sociedade não são só entidades materiais.


Que aqueles que decidem usar o anel de tucum possam se lembrar das sábias palavras de Dom Pedro Casaldáliga: “(…) Este anel é feito a partir de uma palmeira da Amazônia. É sinal da aliança com a causa indígena e com as causas populares. Quem carrega esse anel significa que assumiu essas causas. E, as suas conseqüências. Você toparia usar o anel? Olha, isso compromete, viu? Muitos, por causa deste compromisso foram até a morte (…)”.

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