Em tempos em que o anti-intelectualismo assume o poder (vertical) e ressoa nas atitudes das massas (horizontal), sempre é bom lembrar que fazer uma crítica da educação não é colocar-se contra ela, mas dentro dela para realizar mudanças. Não basta autodeclar-se filósofo e gritar ofensas. Filosofia é, desde sua gênese, dialógica! Não basta falar mal do sistema educacional, é preciso lutar por ele e nele, ao lado dos que estão alí! O "não lutar" já é parte do currículo oculto do muito que é ensinado horizontalmente por aí: de que educar é quantificar resultados, é mensurar notas, é produzir profissionais.
Para mim, educar é conduzir, tirar e fazer sair o melhor do Outro a fim de que todos os outros (sociedade) sejam beneficiados. Nas palavras de Ulpiano:
"A nossa universidade não é uma universidade para produzir pensamento. A única coisa que se produz na universidade é obediência. Se ensina o estudante a obedecer. Tanto que eu luto com muitos de meus alunos quando eles começam a dizer para mim: “eu não suporto mais". Eu digo: “Aguenta a barra. Aguenta a barra e pega esse diploma. É um instrumento de guerra”. Porque a universidade só passa isso para nós. Quando você começa a verificar #aulas em que a questão passa a ser o pensamento o estudante fica inteiramente surpreendido. Ele não está habituado, não está formado para isso. Porque desde os 3 anos de idade ele não para de receber essas forças constituintes de marcas e sinais. E em linguagem literária o que se produz é um homem dos hábitos. Um homem que tem um conjunto de hábitos e julga que aquele conjunto de hábitos que ele tem é a natureza dele. Então é preciso passar uma força, - sobretudo a #literatura é muito bonita para isso - de #estranhamento. Abrir uma espécie de buraco, onde você começa a verificar que sua natureza não é o seu conjunto de hábitos. Quando a gente lê Michel #Foucault a gente fica muito surpreendido por causa dessas coisas. O Foucault quando vai pensar a homossexualidade grega diz: “a homossexualidade grega não tem nada ver com a homossexualidade do ocidente. Se vocês quiserem articular a homossexualidade grega com a do ocidente vocês não irão entender nada”. Aí o homem do hábito diz assim: “esse Foucault é um louco”. Aí Foucault diz: “Sou. Porque é preciso ser louco para vencer os hábitos”. Por isso que a loucura não para... A loucura e a #literatura, a loucura e a #arte, a loucura e a #filosofia não param de ser perseguidas pelas forças repressivas do campo social, psiquiatria e etc... Porque é exatamente isso. Para produzir esse mundo novo é preciso correr um risco muito grande. Correr um risco de pensamento. E - aqui é de uma beleza incrível - isso é o pensamento não naquilo que é real. E não naquilo que é possível. A questão do pensamento é produzir o impossível. Produzir o impensável. É exatamente o que #Nietzsche fez! É exatamente o que #Spinoza fez! Ir além de todos os limites que nos foram dado por #Kant, era o pensamento. Transgredir é muito mais do que transgredir, é produzir exatamente um novo. Produzir impossibilidades!"
(Cláudio ULPIANO in: Pensamento e Liberdade em Spinoza. Aula gravada em 1988, no Planetário da Gávea, Rio de Janeiro-RJ.)
#pensandoalto
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