Quando a ignorância começa a ser aplaudida, em pouco tempo assume o poder! Desse modo, através dos dispositivos coercitivos, vai alimentando uma segunda onda de ignorância e de bestialidade. No fim, as consciências acordam quando são tocadas pela censura. Contudo, já é tarde ...
Quero deixar claro algumas coisas: o palácio é residência do presidente, mas é uma realidade pública. Quero dizer que o que lá se encontra de arte é manifestação, pelo menos intencional, da brasilidade.
Depois, a posição religiosa do presidente não importa para o exercício da função e, portanto, para a residência. É triste ver o nível de ignorância religiosa nessa decisão. A falta de respeito com a cultura histórica. Sem falar do aspecto microfísico do poder, ou seja, de como esse ato simples reverbera em atos posteriores de intolerância.
Antes que venham dizer, não estou falando por ela ser do clã do presidente. Isso pouco importa. Estou falando da ação. Está é lamentável!
O que me leva a ecoar a reflexão do Tauat Augusto Resende, uma das mentes jovens que mais admiro:
"A primeira dama Michelle Bolsonaro visitou o Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, e solicitou a retirada de obras de arte sacras do Palácio: quadros históricos e imagens sacras do século XVIII serão retirados do Alvorada. O que está em marcha no país é o retrocesso obscurantista daqueles que não tem noção nenhuma do que significa república, confundindo-a com sua profissão de fé. Tampouco há, nesse gesto, qualquer respeito pela laicidade do Estado. Há um revanchismo religioso, em que se pretende substituir uma confissão por outra. As artes católicas e de religiões de matrizes africanas que ornam o Palácio são produto da cultura brasileira e pertencem ao povo brasileiro, não ao presidente eleito e sua família. Na história do Brasil, o único presidente que fez isso foi o ditador Ernesto Geisel, que era luterano e escondeu o mesmo quadro das Orixás que agora Michelle não quer ver. O pior é ver a direita católica, que costuma ser tão barulhenta e espalhafatosa, caladinha. É, porém, compreensível, visto que nos últimos anos ficou à reboque dos protestantes e sonha no dia em que terá líderes fortes e que arrastem multidões como os neopentecostais. Afinal, foi a isso que se reduziu o conservadorismo católico brasileiro: se tornar linha auxiliar dos evangélicos. E o pior é que não há ecumenismo nenhum nessa postura. Há tão-somente subserviência e síndrome de vira-lata. O Estado fundamentalista evangélico do Brasil avança com a bênção da direita católica."
Enfim, as ações são o bater de asas de uma borboleta: podem causar um tufão do outro lado do mundo.
#pensandoalto
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