Pedro Paulo Rodrigues Santos
Qual o impacto
que nossas decisões podem ter na vida das pessoas ao nosso redor? As escolhas
corriqueiras que fazemos ao orientar nossos dias podem afetar a humanidade? Ou
melhor, nossa personalidade tem algo a acrescentar ao tecido que chamamos “história”?
Questões
como essas saltavam intuitivamente em minha mente enquanto assistia ao longa O jogo da imitação ( The imitation Game, no original).
O
filme é ambientado no Reino Unido e se passa no contexto da Segunda Grande
Guerra. Contudo, essa não é uma produção sobre guerra, mas sobre a vida e,
nesse caso, a vida de Alan Turing, matemático, cientista da computação e
criptologista da primeira metade do século XX.
O
roteiro dessa cinebiografia apresenta uma progressão de eventos muito peculiar,
como uma retrospectiva de alguém meditando sobre a vida. O filme acontece em
três períodos: na juventude de Turing, no seu trabalho durante a guerra e pouco
antes de seu suicídio, em 1954. Nas tramas das idas e vindas da história, somos
inseridos na paulatina formação da personalidade e do personagem que Alan
Turing será na década de 40, momento em que, silenciosamente, ele se torna uma
peça central e invisível no combate dos Aliados aos Nazistas.
No
coração da trama, temos que durante a Segunda Guerra Mundial, o governo
britânico monta uma equipe de intelectuais de elite com o objetivo quebrar
Enigma, uma poderosa máquina desenvolvida pela comissão de tecnologia dos nazistas a fim de
codificar mensagens que só poderiam ser entendidas por quem possuísse o código
chave. Na época, acreditava-se que o sistema de codificação era impossível de
ser quebrado.
Alan
Turing (Benedict Cumberbatch), então com 27 anos, será aceito nesse seleto
grupo de intelectuais. Entretanto, divergindo de seus companheiros e das
autoridades, Alan convence-se de que seria humanamente impossível realizar a
decodificação de Enigma, uma vez que ela geraria milhões de possibilidades a
serem testadas no espaço de apenas 18 horas, antes de sua reconfiguração diária. Desse
modo, o jovem matemático idealiza uma maquina que pudesse combater a tecnologia
nazista, desenvolvendo, assim, o que posteriormente seria chamado de “máquina
de Turing” e que antecederia aos computadores que temos hoje em dia.
A
máquina desenvolvida por Alan consegue quebrar os códigos de Enigma, o que,
segundo os historiadores, teria encurtado a guerra em, pelo menos, dois anos,
além de servir de material teórico para o desenvolvimento da computação contemporânea.
À medida que fluxo de informações do filme vai seguindo seu rumo, algumas realidades
humanas são colocadas em xeque, como o papel social da mulher e sua capacidade
de atuar no mundo em pé de igualdade com os homens, superando-os em certos
aspectos. Essa temática é inserida pela personagem Joan Clarke (Keira Knightley), matemática inglesa e única mulher pertencente ao grupo de elite criado pela
inteligência britânica. Isso é contraposto por um conservadorismo estéril
e opressor, fundado em um falso moralismo que apenas sufoca a genialidade do
que é diferente.
Talvez
essa seja a grande discussão filosófica por detrás dos conflitos existências
que o filme apresenta. A diferença é vista, em vários momentos da trama, como
algo negativo, não normal.
Em
uma cena linda, na casa de Turing, Joan questiona o que seja a normalidade e
afirma que não foi a normalidade que triunfou na guerra, mas a singularidade de
um homem brilhante intelectualmente e que tem uma infinidade de defeitos, quase
que caracterizando e re-propondo a figura do herói, não o modelo perfeito e sem
defeito, mas o que realiza o bem pelo desejo do bem.
A
homossexualidade de Turing é apresentada na trama como sua anormalidade e, por
isso, crime que o levará a humilhação e ao esquecimento por mais de 50 anos.
Contudo, o longa de 2014 reforça a idéia de que normalidade não passa de “estar
de acordo com as normas vigentes” e que não há nada mais insano que esperar de
um fluxo normativo algo novo. É por causa de cada uma das singularidades de
Alan Turing que essa resenha está sendo redigida em um computador e que estará
disponível na internet. Podemos fazer muitos elogios ao conceito de “normal”,
entretanto, devemos nos recordar que para os nazistas, era “normal” o que eles
defendiam, estava nas normas. É muita pretensão humana tentar reduzir à uma normalidade, isto é, à normas paradigmáticas a condição humana que, em sua natureza, é singularidade e alteridade.
O Jogo da Imitação revela o quanto cada vida humana é singular e como é essa singularidade assumida e decida em ser quem é que faz com que os trilhos da história jamais parem, ainda que nossos nomes não sejam os mais famosos. Essa imagem é plástica na fotografia em tons frios presente em todo o filme e na celebração bela e sutil que o encerra, mostrando que, no fim, as pessoas de quem menos esperamos são as que fazem as magníficas coisas que jamais poderíamos imaginar.
O Jogo da Imitação revela o quanto cada vida humana é singular e como é essa singularidade assumida e decida em ser quem é que faz com que os trilhos da história jamais parem, ainda que nossos nomes não sejam os mais famosos. Essa imagem é plástica na fotografia em tons frios presente em todo o filme e na celebração bela e sutil que o encerra, mostrando que, no fim, as pessoas de quem menos esperamos são as que fazem as magníficas coisas que jamais poderíamos imaginar.
Título: O Jogo da Imitação
direção: Morten Tyldum;
roteiro: Graham Moore (baseado no livro Alan Turing: the enigma, de Andrew Hodges);
elenco: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode, Allen Leech, Matthew Beard, Mark Strong, Charles Dance, Rory Kinnear
ano: 2014; duração: 114 minutos; país: Estados Unidos, Reino Unido;
gênero: drama Crítica: oito indicações ao Oscar 2015.
Obrigada por compartilhar a critica desse filme! Eu acho que foi incrível ver Benedict Cumberbatch no papel principal. É de admirar o profissionalismo deste ator, trabalha muito para se entregar em cada atuação o melhor, sempre supera seus papeis anteriores, ele vai provar em Brexit um filme que será um dos filmes de drama. Lembro dos seus papeis iniciais, em comparação com os seus filmes atuais, e vejo muita evolução, mostra personagens com maior seguridade e que enchem de emoções ao expectador. Eu já quero ver!
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