Ao longo da história, a
humanidade assistiu, na primeira fila, o desenrolar de diversas “produções” que
tinham como título um conceito novo que visava corresponder às exigências do
coração de cada homem: revolução.
Desse modo, assistiu-se a revolução do homem contra a ordem estabelecida pelo
Criador; a revolução contra o domínio de imperadores, reis e papas; a revolução
do proletariado; a revolução científica; a revolução feminista; a revolução
liberalista; a revolução sexual; a revolução gay...
Todas as revoluções tinham como
proposta inicial e motivadora o resgate da humanidade do homem, a sua liberdade
e satisfação, o seu progresso e bem-estar. Entretanto, todas as vezes que se
iniciou esse projeto de conquista de “direitos e valores” partindo-se de um Eu concreto, detentor de certa
autoridade sobre um determinado grupo que
se põe a fazer pressão contra a sociedade para impor, de modo definitivo, suas
“motivações” na vida social, esse mesmo processo gerou apenas violência, morte
e afastamento da humanidade do homem, um progressivo esquecimento do que é ser
homem de fato.
Ben-Hur experiencia essa verdade
em sua história pessoal, é personagem paradigmático dessa realidade: quando a
revolução é embasada em uma ipseidade,
ela tende a reduzir toda e qualquer realidade, que é constitutivamente
alteridade, a si mesmo pela violência e pela força.
Contudo, a autêntica revolução
consiste em “ser capaz de responder” – responsabilidade – à realidade que se
apresenta hostil e violenta com serena afirmação de si, de seus direitos e
deveres. Esse movimento não é natural no homem, mas lhe é originário, uma vez
que a responsabilidade é condição para que exista verdadeira relação e que o
homem foi constituído à “imagem e semelhança” de um Deus que, em si mesmo, é
relação de amor (Gn 1,26).
Sim, esse movimento não-natural
no homem, mas que lhe é original, lhe é devolvido quando esse “homem-eu” é
colocado ante a face do “outro-tu” e o reconhece como um próximo, um irmão. Esse
movimento existencial é como que a engrenagem interna da ética-relacional da fé
cristã, que tem sua origem na Pessoa de Jesus Cristo, o primeiro a viver essa
realidade em plenitude e a fazer da humanidade partícipe dessa plenitude que
Ele alcançou para os homens de todos os tempos, devolvendo ao ser humano a sua
verdadeira identidade ao revelar o homem ao próprio homem.
Esse movimento, sim, é
revolucionário porque consiste em “re-escolher”, em “colocar a vontade de novo
em” (re-volo) responder ao rosto que
se põe ante a face do homem e lhe pede ajuda, mesmo quando incapaz de articular
uma única palavra, porque esse mesmo rosto é sinal do Rosto no qual todos os
homens e o homem todo pode contemplar-se e descobrir-se sempre mais necessitados
de fazer-se dom, do mesmo modo como o fez Jesus, Rosto humano de Deus. Pôr-se
ante o Rosto de Jesus é experienciar a mais autêntica revolução, a revolução
pessoal, a conversão que projeta o homem para além de si, inclusive no espaço e
no tempo.
Assim, não há como não recordar
Francisco de Assis e Teresa de Calcutá que, tendo encontrado o Rosto de Jesus,
foram transformados e influenciaram mudanças na vida das pessoas, da sociedade,
da Igreja e do mundo inteiro como autênticos revolucionários que dão à
humanidade o testemunho de que só contemplando o Rosto do Cristo que sobe ao Calvário
é que se alcança, verdadeiramente, o resgate da humanidade do homem, a sua
liberdade e satisfação, o seu progresso e bem-estar. Desse modo entende-se que
o cristianismo é, historicamente, revolucionário, porque sempre os cristãos
estão na contra-mão da desestruturação do homem e sempre estão respondendo aos
sinais dos tempos com a luz do Rosto de Cristo.
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