sábado, 12 de março de 2016

A fé cristã como Revolução: Estar em face do Rosto, revolução da liberdade


Ao longo da história, a humanidade assistiu, na primeira fila, o desenrolar de diversas “produções” que tinham como título um conceito novo que visava corresponder às exigências do coração de cada homem: revolução. Desse modo, assistiu-se a revolução do homem contra a ordem estabelecida pelo Criador; a revolução contra o domínio de imperadores, reis e papas; a revolução do proletariado; a revolução científica; a revolução feminista; a revolução liberalista; a revolução sexual; a revolução gay...
Todas as revoluções tinham como proposta inicial e motivadora o resgate da humanidade do homem, a sua liberdade e satisfação, o seu progresso e bem-estar. Entretanto, todas as vezes que se iniciou esse projeto de conquista de “direitos e valores” partindo-se de um Eu concreto, detentor de certa autoridade sobre um determinado grupo   que se põe a fazer pressão contra a sociedade para impor, de modo definitivo, suas “motivações” na vida social, esse mesmo processo gerou apenas violência, morte e afastamento da humanidade do homem, um progressivo esquecimento do que é ser homem de fato.
Ben-Hur experiencia essa verdade em sua história pessoal, é personagem paradigmático dessa realidade: quando a revolução é embasada em uma ipseidade, ela tende a reduzir toda e qualquer realidade, que é constitutivamente alteridade, a si mesmo pela violência e pela força.
Contudo, a autêntica revolução consiste em “ser capaz de responder” – responsabilidade – à realidade que se apresenta hostil e violenta com serena afirmação de si, de seus direitos e deveres. Esse movimento não é natural no homem, mas lhe é originário, uma vez que a responsabilidade é condição para que exista verdadeira relação e que o homem foi constituído à “imagem e semelhança” de um Deus que, em si mesmo, é relação de amor (Gn 1,26).
Sim, esse movimento não-natural no homem, mas que lhe é original, lhe é devolvido quando esse “homem-eu” é colocado ante a face do “outro-tu” e o reconhece como um próximo, um irmão. Esse movimento existencial é como que a engrenagem interna da ética-relacional da fé cristã, que tem sua origem na Pessoa de Jesus Cristo, o primeiro a viver essa realidade em plenitude e a fazer da humanidade partícipe dessa plenitude que Ele alcançou para os homens de todos os tempos, devolvendo ao ser humano a sua verdadeira identidade ao revelar o homem ao próprio homem.
Esse movimento, sim, é revolucionário porque consiste em “re-escolher”, em “colocar a vontade de novo em” (re-volo) responder ao rosto que se põe ante a face do homem e lhe pede ajuda, mesmo quando incapaz de articular uma única palavra, porque esse mesmo rosto é sinal do Rosto no qual todos os homens e o homem todo pode contemplar-se e descobrir-se sempre mais necessitados de fazer-se dom, do mesmo modo como o fez Jesus, Rosto humano de Deus. Pôr-se ante o Rosto de Jesus é experienciar a mais autêntica revolução, a revolução pessoal, a conversão que projeta o homem para além de si, inclusive no espaço e no tempo.

Assim, não há como não recordar Francisco de Assis e Teresa de Calcutá que, tendo encontrado o Rosto de Jesus, foram transformados e influenciaram mudanças na vida das pessoas, da sociedade, da Igreja e do mundo inteiro como autênticos revolucionários que dão à humanidade o testemunho de que só contemplando o Rosto do Cristo que sobe ao Calvário é que se alcança, verdadeiramente, o resgate da humanidade do homem, a sua liberdade e satisfação, o seu progresso e bem-estar. Desse modo entende-se que o cristianismo é, historicamente, revolucionário, porque sempre os cristãos estão na contra-mão da desestruturação do homem e sempre estão respondendo aos sinais dos tempos com a luz do Rosto de Cristo.

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