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sexta-feira, 28 de abril de 2017
Resenha: Thirteen reasons why
Em #13ReasonsWhy, um tema delicado e um gênero em ascensão na literatura são a base para uma série que conjuga uma trama necessária, expõe com ênfase a necessidade do #diálogo e mantém a vertente de seu produto original. Baseado no livro homônimo lançado em 2007 por Jay Acher, a série se desenvolve a partir do suicídio da jovem Hannah Baker e de um conjunto de fitas gravadas que justificam as razões para ter cometido esse ato.
O formato do #gênero se reflete na série 13 Reasons Why. Trata-se de um produto claramente voltado ao público juvenil mas que consegue ultrapassar qualquer faixa etária. A leveza da narrativa, do roteiro, a qualidade da trilha sonora, bem como o destaque, nem que seja em uma única cena, a todos os personagens centrais, é uma das características fundamentais da série. A maioria dos #adolescentes em cena são expressivos, calorosos, e com falas de impacto que, por um lado, reforçam a ficção, por outro cria um ambiente mais familiar para dialogar sobre assuntos espinhosos.
O exagero é fundamental para causar contraponto. As cores são mais brilhantes nos momentos alegres e se adensam nos temas sérios. Como os narradores sempre são adolescentes, eventuais distorções ficcionais se tornam mais coerentes. Receber um conjunto de fitas cassete testamentais de uma colega que se suicidou não causaria pânico em um adulto, no máximo certo estranhamento. Um jovem, por outro lado, manteria segredo e seguiria o pedido da fita: ouvi-las e passar a outro envolvido nas ações.
A cada episódio, um dos lados das fitas é apresentado ao público. As personagens são construídas pela perspectiva de Hannah mas a trama é capaz de inserir certa densidade ambígua na maioria dos jovens. Apesar do ambiente agressivo, da temática do #bullying em uma escola que aparentemente desconhece as diversas violências sofrida pelos jovens, há sempre um momento em cena que cada adolescente ganha um pouco mais de personalidade, carregando também sua gama de dores. Em outras palavras, salvo um personagem que se desenvolve como o vilão principal da trama, todos os outros jovens estão no equilibro entre boas e más ações. Parte de seus erros estão ligados a falta de maturidade, falta de um acompanhamento adulto em uma fase da vida em que pressões internas e externas são naturais, perceptíveis e, muitas vezes, agressivas.
Dentre esses diversos personagens entre o bem e o mal, o jovem Clay é o mais comum deles, o garoto equilibrado e com bons valores que julga os atos com mais propriedade do que os seus colegas. Nada o faz diferente, exceto talvez a própria noção de consequência, uma maturidade que o transforma em um destaque na trama e, não a toa, o catalisador da ação em resolver os problemas que Hannah não conseguiu em vida. É através de suas reações que o público se identifica, descobrindo que entre um universo aparentemente belo do colégio, existia um caos, tanto o caótico interior da garota Hannah, parcialmente deslocada do seu ambiente, como cada um de seus colegas presentes nas fitas, vivendo conflitos internos.
Como a trama explora poucas nuances, tudo é narrado as claras. Há um momento em que Hannah menciona o quanto o julgamento é prejudicial a outro, afinal, todos carregam problemas dentro de si. A série demonstra com qualidade tal afirmativa, nenhum adolescente em cena é totalmente ruim, mas vive sob a pressão natural da idade e certo senso de inconsequência. O único que não ganha equilibrio é o vilão Bryce Waler, propositadamente construído sem qualidades para causar impacto, em uma dos atos mais agressivos contra Hannah Baker.
Ainda que o enfoque não perca as características fundamentais do romance em que se baseou, a produção fez uma escolha certa ao enfocar o drama dos pais da garota ao lidar com a perda, bem como evitam um drama excessivo no episódio final que apresenta corajosamente a cena de suicídio da personagem. Uma cena densa, explícita, em que o público compartilha o momento de hesitação e agonia de Hannah, em que fica claro que o suicídio não é uma escolha pela morte, mas a decisão de não mais assumir está vida como é dado, um momento de terror e medo diante da única escolha que nunca foi uma escolha.
Outro aspecto forte é que a série é narrada pela própria Hannah, ou seja, todo o sofrimento assistido parte de seu desequilíbrio emocional, sendo natural que a propensão pelo desastre seja maior.
Apesar das críticas que apontam que no enredo o suicídio é apresentado como uma opção entre as demais, partindo da visão de Hannah, o li como uma ação difícil por essência, explorada por diversas ciências e filosofias e nunca explicada de fato, não com uma justificativa definitiva.
E é nesta riqueza de possibilidades que se pode justificar a reação de cada um dos amigos de Hannah ao ouvir suas fitas. Não faltam dúvidas: somos responsáveis pelos outros? Podemos impedir que outro faça esta ou aquela atitude?
Chama a atenção, entre a poesia criada pela fotografia e roteiro dá série, o personagem Tony, tido como o guardião da existência de Hannah e como um jovem sábio. Ele é a personagem mais esférica da trama e simboliza a superação de uma série de preconceitos: ele é latino, pobre, gay, baixo, dirige um carro muito antigo... E são essas características que, assumidas e aceitas, fazem com que sua singularidade apareça como um sinal de razoabilidade no meio de toda a tensão da série!
Bem, fica a indicação para que seja assistida em uma perspectiva de assumir a responsabilidade ética que temos no desenvolvimento existencial de cada outro que passa pela nossa história!
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