Um espaço aberto ao diálogo e a partilha em filosofia, teologia e cultura geral!!!! Não sei se me dedico a filosofia porque ela é vida ou se me empenho pela vida porque ela é filosofia....
terça-feira, 12 de setembro de 2017
Reflexões sobre ser respeito ao Outro
Sobre a questão do "QueerMuseu" tenho algumas angústias e perplexidades acerca de como as coisas se deram, como foram divulgadas e, acima de tudo, do nosso tempo como um todo e da distância entre aquilo que dizemos querer e aquilo que de fato fazemos...
Viver em uma sociedade plural é um desafio, reconhecer e assumir que o outro é outro e é irredutível a mim e as minhas representações de mundo pode causar medo e assombro, mas, sem dúvida, acredito que por mais que nos desaloje, esse é o melhor caminho!
Todos nós tendemos a dizer que amamos a diversidade de ideias e que a diferença acrescenta. Há muito de verdade nisso. Até porque todos nós queremos ser respeitados em nossas diferenças e singularidades. Contudo, a coisa complica quando nos deparamos com alguém que pensa de forma diametralmente oposta à nossa. Quando aquilo para nós é sagrado para o outro é profano e aquilo que para mim é profano ou demonizado para o outro é sagrado! Aqui é difícil reconhecer a alteridade do outro, o seu direito a ter convicções como eu as tenho.
Nesse contexto, surgem os grandes empecilhos na administração das diferenças. No dia a dia, acabamos ignorando a maior parte dos casos e nos cercando daqueles que pensam como nós no que julgamos mais importante. E continuamos vivendo como se fôssemos nós os virtuosos, perfeitos, e considerando os outros coml os intolerantes, sujos, pecadores. Nos iludimos com a falsa certeza de que somos moralmente superiores e os outros ignorantes e alienados, apressamos em julgar e condenar e esquecemos as nossas próprias inconsistências e imoralidades.
Acontece que em alguns momentos os outros reivindicam o falso direito de anular nossa ipseidade como nós fazemos com eles e ofendem o que nós consideramos sagrado. Neste instante bradamos de indignação frente o desprezo daqueles que não compreendem como podemos agir de um modo que consideram tão ultrapassado, retrógrado e fundamentalista.
Penso que todos temos nossos sagrados e que não há ninguém que tolere tudo. Todos tem seus intoleráveis e para que a tolerância seja um direito de todos, algumas coisas realmente não podem ser toleradas. O relativismo é uma máscara que normalmente cai ardendo lugar à indignarão do mesmo modo que o mais dogmático dos dogmáticos quando vê suas crenças atacadas.
Nessa época de polarização, vivemos em um grande impasse, onde cada um tem a certeza do monopólio da virtude e sabe que as trevas estão do outro lado. A multiplicidade de crenças e práticas que convivem em um mesmo espaço é enorme. E nunca antes na história da humanidade foi assim. Claro que sempre existiram discordâncias, e das mais sérias, no entanto, havia um pano de fundo consensual no qual os conflitos podiam ser resolvidos, mas a globalização e a mundialização diluiram essa estrutura em uma sociedade completamente líquida, liquidificadora e liquidificante!
Infelizmente, a probabilidade para tal situação descambe na morte do diálogo e numa escalada da violência não é pequena. É só observarmos os discursos de ódio e intolerância que ganham espaço em diversas partes do mundo e em diversos segmentos sociais: na política,, na religião, nas relações entre Estados...
Gostaria de ter caminhos a propor. Não os tenho. Há dias que sou tomado de uma dor enorme. Isso ocorre principalmente quando vejo defensores da tolerância sendo intolerantes com os que são de fora de seu círculo ou quando profetas da crítica são pouco críticos com os que estão dentro de seu clube. Claro que eu devia saber que isso é normal, que é humano, mas não consigo deixar de me entristecer.
Não tenho caminhos. Tenho apenas meus pontos de partida. Tenho uma fé que julgo sagrada. Dela retiro a crença de que sem verdade não existe consenso sustentável e de que sem amor não há o desejo de criar pontes com aqueles de quem descordamos. Aprendi e acredito que amor e verdade são duas faces da mesma moeda, faces que não podem ser separadas sob a pena de se destruírem. Como disse alguém muito mais sábio que eu: "a verdade sem amor é desumana e o amor sem a verdade é falso".
Sei que é isso é pouco e que as vezes é difícil transformar esses princípios em ação concreta. Sei também que, na minha fraqueza, nem sempre sou coerente com eles ou consigo vivê-los do modo que deveria: as vezes sou machista, preconceituoso, inquisidor! São, como disse, meu ponto de partida para pensar o mundo e para tentar agir nele.
Hoje desejo explicitá-los apenas porque no caos em que vivemos talvez seja útil saber de onde cada um parte. Tocado pelo partir de alguém te convido a partir também em uma reflexão para a responsabilidade pelo outro...
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