Essa semana, uma aluna veio
perguntar-me o sobre o anel preto que ocasionalmente uso na mão direita. O
famoso “anel de Tucum”. Ela usava um também, meio que por meio da formação de
sua Diocese, que possuía uma forte experiência passada com a Teologia da
Libertação e, conseqüentemente, alguns aspectos ainda eram presentes no
comportamento dos fieis.
Para precisarmos nossa conversa, Anel de tucum é um anel feito da semente
de tucum,
uma espécie de palmeira nativa da Amazônia. É utilizado por fiéis cristãos como
símbolo do “compromisso preferencial” das igrejas, especialmente da Igreja Católica, com os pobres. Sim, essa
expressão vem dos anos posteriores ao Concílio Vaticano II e foi assumida e
repetida nos CELAM’s de Medellin e Puebla.
O uso de anéis é muito antigo e
está mais ligado a um simbolismo ritual que a simples prática de adorno
corporal. O anel mantinha uma dimensão sagrada como símbolo do que é santo,
divino, intacto. Desde os egípcios, assírios, persas, o anel tem essa
simbologia sagrada, de união, de compromisso, muito além de simples adorno. No
corpo das Sagradas Escrituras, é símbolo de pacto de paz ou matrimonial, alem
de revelar a dignidade de pertença a uma determinada família. Faço essa
digreção histórica para que possamos perceber que o anel de tucum não é um
modismo atual e, menos ainda, a compra da ideologia teológica marxista da
Teologia da Libertação, mas antes, pode significar a adesão a um projeto de
vida que se oriente para a simplicidade evangélica.
Na época do Império no Brasil,
quando o ouro era usado em grande escala entre os ricos proprietários de terra,
principalmente nos anéis, os negros e os índios, não tendo acesso ao ouro,
criaram o ANEL DE TUCUM como símbolo de pacto matrimonial, símbolo de amizade
entre si e também de resistência na luta por libertação. É o processo que
Pierre Bordieu chama de dominação simbólica, em que os símbolos da classe
dominante vai sendo assumido de forma adaptada pela classe imediatamente inferior,
em um processo inconsciente de afirmação de que a classe dominante tem os
critérios desejáveis de vida.
O objetivo é resgatar este
símbolo é o compromisso e denunciar as causas da pobreza. Este é o compromisso
simbolizado nesta aliança natural e escura, cuja única riqueza é a
simplicidade.
Além da Bíblia, a opção pelos
pobres é testemunhada também por toda a tradição da Igreja, principalmente na experiência
dos santos. Esta opção é a essência mesmo da vida cristã porque está ligada à
imitação da vida de Cristo. Mas esta opção não é apenas uma responsabilidade
individual ou a decisão para revolta e mudança social, se caracteriza por um
posicionamento existencial diante da vida, do outro e de Deus, do Deus que está
do lado dos pobres porque ama os pobres. Por isso o cristão é chamado a seguir
este mesmo exemplo de amor e opção preferencial que tenta promover a dignidade
humana. No pobre revela-se o rosto do próprio Deus (Mt 25,40).
Infelizmente, na sociedade
líquida em que vivemos, também o poder dos símbolos vai se perdendo. Alguns,
sem base e conhecimento algum, afirmam que o anel de tucum é um modo de
anunciar a própria homossexualidade ou um adereço do fã club de determinada
artista. Grande ignorância que não percebe que o dito artista usa o anel por
suas raízes Católicas. Quanto a questão da sexualidade, infelizmente tal
confusão vem do fato de que a teologia da Libertação, por sua base marxista,
acabava relaxando muitos aspectos da doutrina eclesiástica, misturando o
verdadeiro empenho pelo Reino de Deus com a ambição desmedida de instaurar um
governo comunista na América Latina.
Não quero demonizar a teologia da
Libertação, uma vez que reconheço profundos valores evangélicos e sociais nela,
contudo, por uma questão de consciência, sou obrigado a reconhecer que sua
proposta de solução é puramente materialista e não reconhece que o homem e a
sociedade não são só entidades materiais.
Que aqueles que decidem usar o
anel de tucum possam se lembrar das sábias palavras de Dom Pedro Casaldáliga:
“(…) Este anel é feito a partir de uma palmeira da Amazônia. É sinal da aliança
com a causa indígena e com as causas populares. Quem carrega esse anel
significa que assumiu essas causas. E, as suas conseqüências. Você toparia usar
o anel? Olha, isso compromete, viu? Muitos, por causa deste compromisso foram
até a morte (…)”.
Interessante!
ResponderExcluirSensacional! Me tirou da caixinha! 💖
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