Havia no campo de concentração um garoto, um pipel, como eram chamados. Um dia, quando voltávamos do trabalho, vimos três forças armadas no local onde nós reuníamos quando era feita a chamada. Fizeram a chamada. Os homens da SS às nossa volta; metralhadoras apontadas: cerimônia tradicional. Três condenados estavam acorrentados e, entre eles, o pequeno pipel. O chefe do campo leu o veredicto. Todos os olhares estavam fixos sobre o menino. Ele estava lívido, quase calmo, mordendo os lábios e coberto pela sombra da forca. Os três condenados subiram ao mesmo tempo nas cadeiras. O pescoço dos três foi introduzido nas cordas.
"Vida longa à liberdade", gritaram os dois adultos.
A criança continuou silenciosa.
"Onde está Deus? Onde está ele", alguém perguntou atrás de mim.
Ao sinal do chefe do campo, as três cadeiras tombaram.
Total silêncio atravessou o campo. Sobre o horizonte, o sol se punha.
Então o desfile começou. Os dois adultos não estavam mais vivos. Suas línguas inchadas penduradas, tingidas de azul. Mas a terceira corda continuava se movendo; sendo tão leve, a criança continuava viva…
Por mais meia hora ele continuou lá, lutando entre a vida e a morte, morrendo em lenta agonia sob nossos olhos. E nós tivemos que olhá-lo de cheio em sua face.
Ele ainda estava vivo quando passei em frente dele. Sua língua continuava vermelha, seus olhos ainda não estavam vidrados.
Atrás de mim, escutei o mesmo homem perguntando:
"Onde está Deus agora?"
"Onde está ele? Aqui está Ele – Ele está pendurado aqui na forca…"
Naquela noite a sopa tinha gosto de cadáveres.
"Vida longa à liberdade", gritaram os dois adultos.
A criança continuou silenciosa.
"Onde está Deus? Onde está ele", alguém perguntou atrás de mim.
Ao sinal do chefe do campo, as três cadeiras tombaram.
Total silêncio atravessou o campo. Sobre o horizonte, o sol se punha.
Então o desfile começou. Os dois adultos não estavam mais vivos. Suas línguas inchadas penduradas, tingidas de azul. Mas a terceira corda continuava se movendo; sendo tão leve, a criança continuava viva…
Por mais meia hora ele continuou lá, lutando entre a vida e a morte, morrendo em lenta agonia sob nossos olhos. E nós tivemos que olhá-lo de cheio em sua face.
Ele ainda estava vivo quando passei em frente dele. Sua língua continuava vermelha, seus olhos ainda não estavam vidrados.
Atrás de mim, escutei o mesmo homem perguntando:
"Onde está Deus agora?"
"Onde está ele? Aqui está Ele – Ele está pendurado aqui na forca…"
Naquela noite a sopa tinha gosto de cadáveres.
(Uma tradução minha da obra de Elie Wisel, The night. p. 102-105)
Uma reflexão: Deus, ao criar o mundo, deu tudo o que podia dar; agora ele suporta em silêncio as consequências de ter criado o mundo, principalmente os resultados da liberdade humana. Em tudo, Ele se dispõe manifestar o poder de Seu braço tirando dos males que causamos um Bem maior, que só pode vir do Transcendente!
#filosofia #teologia